Vacinas nanotecnológicas

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Ontem, no início da noite, perguntaram-me se eu já havia tomado a vacina contra o H1N1 e – se sim – como eu estava. Eu ainda não tinha tratado desse assunto aqui no blog por pura enrolação. Como o Ministério da Saúde prorrogou o calendário de vacinação até 2 de junho para todos os grupos já incluídos na campanha e também para novos grupos, como crianças de 2 a 4 anos, acho que ainda dá tempo de dar uma força para a campanha e deixar registrado que tomei a vacina contra a gripe A e estou aqui, viva, inteira e serelepe! E olhe que já faz um mês… O tempo de espera na fila de vacinação foi curto e tudo transcorreu tranquilamente. Foi justamente naquele momento fatídico que uma dúvida surgiu: “- posso beber álcool depois de me vacinar?” Brincadeira. Fiquei me perguntando se por acaso nanopartículas poderiam ter alguma utilidade na composição de vacinas de uma forma geral, no futuro.
Vacinas podem ser preparadas com o microrganismo atenuado ou com um pequeno pedaço dele (a isso chamamos antígeno). O antígeno presente na vacina gera uma resposta imunológica no organismo – é como se fosse um sinal de alerta para que os soldados se mantivessem prontos para o combate iminente. Só que alguns microrganismos conseguem burlar os soldados (anticorpos) porque geram sinais diferentes daquele da vacina conforme o tempo passa, seja por causa de mutações, seja porque apresentam diferentes estágios de maturação ao longo de seu ciclo de vida. É assim que acontece com a malária: a cada estágio de vida, o parasita gera um tipo diferente de “sinal”. Um estudo propondo uma vacina para malária foi feito em humanos, em 2008. Os voluntários desse estudo desenvolveram imunidade contra a forma do parasita que fica na corrente sanguínea, mas não contra a forma que fica dentro das células do fígado. Nanopartículas contendo todos os “sinais” possíveis em sua superfície poderiam ser utilizadas em vacinas do futuro para uma imunização mais efetiva e em dose única, porque estimulariam a resposta imunológica contra o parasita em todos os seus estágios de maturação possíveis, ao mesmo tempo. O nome dessa estratégia é um belo trava-língua: estratégia multi-antigênica.
P.S.: Agora fale isso 3x mais rápido: estratégia multi-antigenica, estratégia multigenica, estratégia mutiatigenica, hehehe

Look, M., Bandyopadhyay, A., Blum, J., & Fahmy, T. (2010). Application of nanotechnologies for improved immune response against infectious diseases in the developing world☆ Advanced Drug Delivery Reviews, 62 (4-5), 378-393 DOI: 10.1016/j.addr.2009.11.011
Thompson, F., Porter, D., Okitsu, S., Westerfeld, N., Vogel, D., Todryk, S., Poulton, I., Correa, S., Hutchings, C., Berthoud, T., Dunachie, S., Andrews, L., Williams, J., Sinden, R., Gilbert, S., Pluschke, G., Zurbriggen, R., & Hill, A. (2008). Evidence of Blood Stage Efficacy with a Virosomal Malaria Vaccine in a Phase IIa Clinical Trial PLoS ONE, 3 (1) DOI: 10.1371/journal.pone.0001493

Discussão - 7 comentários

  1. Tharin disse:

    Fernanda, qual seria a vantagem dessa vacina, em comparação com uma contendo antígenos dos diferentes estágios de vida em uma mistura, sem estarem presos a uma única partícula?

  2. Igor Santos disse:

    Estatrégia multiangitênica.
    Ah! Não consigo nem na primeira.

  3. flavia disse:

    Primeiramente, parabens pelo blog, é muito interessante e aborda temas de uma maneira acessivel a quem nao é necessariamente da area.
    Gostei da proposta, mas como sou bem leiga no assunto, poderia me esclarecer alguns problemas que surgiram em minha mente enquanto eu lia o texto? Acredito que a proposta ainda é teórica(se nao o for, me sugeriria outro texto sobre a aplicabilidade da mesma?), mas de toda forma, acho a discussão válida:
    como prever esses antigenos? A imunogenicidade dessas vacinas não se tornaria um risco, ja que envolveria uma grande diversidade de linfocitos, digamos um pool multiespecifico, isso nao se assemelharia ao efeito de um superantigeno? e o risco de uma tentativa de atenuação dos efeitos da vacina, caso o acima seja um risco real, nao teria o potencial de induzir tolerancia aos diversos antigenos propostos, deixando a população extremamente sucetivel?

  4. Amigo de Montaigne disse:

    Fernanda,
    gostei do trava-língua.
    Abs!

  5. Fernanda Poletto disse:

    Oi, Tharin
    Realmente, faltou essa informação no post - obrigada por trazer essa discussão.
    As vacinas feitas apenas com subunidades purificadas de antígeno são menos imunogênicas que o patógeno atenuado - e, por isso, requerem mais de uma aplicação. Elas são menos imunogênicas porque geram uma resposta apenas humoral, e doenças causadas por parasitas intracelulares obrigatórios (como HIV, malária, etc) requerem resposta humoral + resposta imune celular (para matar a célula hospedeira, acabando também com o parasita dentro dela no caso de uma infecção).
    Nanopartículas têm a habilidade de ativar essa resposta imune celular devido à sua escala de tamanho. Uma nanopartícula com antígenos na sua superfície "engana" a célula, que a considera como se fosse um patógeno completo - obviamente, sem risco nenhum de replicação, como no caso de patógenos atenuados.

  6. Nath disse:

    Bem, eu tomei a vacina também há tempos e estou viva =O O que mais me admira é ver pessoas que acreditam naquelas teorias da conspiração e não tomam a vacina! E não, não são pessoas ignorantes, são pesquisadores, doutorandos e mestrandos que quando souberam que eu tinha tomado a vacina me deram milhares de 'fatos' que ela é perigosa ¬¬
    Enfim, curiosamente, ontem e hoje, muitos desses foram se vacinar! hahahhaa
    abraço!
    Adoro seus posts!

  7. Gabriel disse:

    Já existe uma seringa que não irá necessitar de agulha. Pesquise no Google.

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