Abelhas bíblicas

Simpática materinha bíblica que publico hoje na Folha.com pra galera curtir:
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Para a Bíblia, Israel é “a terra onde corre leite e mel”. Não era só força de expressão: arqueólogos anunciaram ontem a descoberta das mais antigas colmeias com abelhas domésticas do mundo, no território israelense.
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A equipe liderada por Amihai Mazar, da Universidade Hebraica de Jerusalém, já tinha forte suspeitas de que os cilindros de argila achados em Tel Rehov (norte do país), no vale do rio Jordão, tinham servido para criar abelhas. Uma pequena abertura de um lado e uma tampa do outro sugeriam locais para a entrada dos insetos e para a manipulação dos favos.
Mas foi só agora, com a ajuda de um biólogo brasileiro, que a equipe conseguiu estudar em detalhe os restos de abelhas achados dentro de duas das colmeias. Tiago Francoy, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, explica que foi procurado pelos israelenses graças à sua colaboração com outro autor do estudo, o alemão Stefan Fuchs.
“Eu fiz parte do meu doutorado na Alemanha e desenvolvi um método para identificar espécies de abelhas com base apenas em pedacinhos da asa”, conta. As nervuras que dão sustentação às asas dos insetos formam um desenho típico, que é único de cada tipo de abelha, diz Francoy. “Como eles tinham esses fósseis, deram uma busca na literatura e viram que eu podia ajudar na identificação”, afirma o biólogo, que fez o trabalho usando fotos. “É uma pena, infelizmente não pude ir até lá para o trabalho”, brinca.
Com pouco menos de 3.000 anos de idade, as colmeias podem datar da época em que o rei Salomão governava as tribos israelitas ou ser um pouco mais recentes, quando o país tinha se dividido nos reinos rivais de Judá (no sul) e Israel (no norte). Apesar de antigas, elas sugerem que a criação de abelhas no Oriente Próximo pode ter uma origem ainda mais remota que a apicultura em Tel Rehov.
Isso porque Francoy usou o programa de computador que desenvolveu para identificar a subespécie de abelha criada lá, e os pesquisadores perceberam que o bicho provavelmente não era a subespécie nativa de Israel (a Apis mellifera syriaca), mas sim a que existe hoje na Turquia (a Apis mellifera anatoliaca).
“Pode ser que a distribuição das subespécies fosse diferente no passado, ou então a abelha criada lá foi trazida originalmente da Turquia”, diz ele. O transporte de longa distância da subespécie turca faz sentido porque ela é menos agressiva e produz mais mel do que a variante de Israel. Além do mais, os apicultores de Tel Rehov montavam suas colmeias no meio da cidade, provavelmente para proteger um recurso valioso, o que poderia causar problemas se os bichos saíssem do controle.
“Na verdade, não seria tão difícil transportar as abelhas. Não sabemos se, na época, eles sabiam que a rainha era a responsável por manter a colmeia funcionando. Nesse caso, poderiam transportar só a rainha. Também seria possível fazer algo que ainda é comum hoje: de noite, fecha-se a entrada da colmeia com um pano, para permitir a ventilação, e aí dá para carregar a colmeia por até uma semana”, afirma ele.
Ou seja, é provável que a domesticação tenha acontecido antes, talvez na própria Turquia. E mais: talvez houvesse um comércio constantes de rainhas ou colmeias de um lugar para o outro. Isso porque as rainhas turcas, caso se acasalassem com zangões de Israel, teriam menos chance de transmitir sua docilidade e produtividade às descendentes. Valeria a pena, portanto, continuar trazendo animais de fora.
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Discussão - 5 comentários

  1. Caro Reinaldo,
    Vi a reportagem na Folha. Muito legal.
    Mas seria uma "materiazinha", não?
    abraços,
    RB

  2. Oi Roberto!
    Seria, de fato, mas estou exercitando o meu direito de escrever errado pelo efeito expressivo de informalidade 😛 Se você reparar, escrevi "siliga" em outro post.
    Abraço!

  3. Cesar Reis disse:

    Prezado Reinaldo:
    Li atentamente a sinopse de seu livro sobre Darwin. Lá é dito que a biologia é a ciência do século 21. Desculpe, prezado, jamais existiu "a ciência", porém "as ciências", pois tal como os reinos da natureza um não sobrevive sem a íntima intra-dependência com os demais. Pensei que os biólogos sabiam disto. E nem a biologia existiria sem que as demais não existissem. E se a biologia chegasse aos páramos como é preconizado na sinopse, seria porque as demais também lá estariam em mesmo nível. Elementar meu caro Watson.
    Por oportuno, não haverá a compreensão da bíblia e nem da evolução das espécies como realmente devam ser entendidas, e não "a-la-Darwin", enquanto os orgulhosos homens de ciência não resolverem investigar à sério o esoterismo tradicional dos categorizados mestres. Se isso não for feito, o darwinismo cairá sempre na mesma e redundante investigação inversa, que para eles é evolução, mas no caso do homem é justamente involução.
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    No caso das espécies, é preciso entender que uma lagartixa jamais chegou a dinossauro e nem ao contrário, e a evolução somente se articula sobre elementos finitos secundários, ou seja, somente até certos caracteres gerais, não mais do que isso. O surgimento das espécies está longe, muito longe mesmo daquilo que os afanosos darwinistas julgam entender.
    Porém, é esperar demais que biólogos e céticos desejem realmente estudar a ciência do esoterismo, por que afinal isso tiraria seu prazer de tripudiar e criticar.
    Abraços prezado.

  4. Reinaldo,
    O Criacionismo Bíblico já foi muito estudado e criticado. Acho que deveriamos agora estudar esse novo rebento, o Criacionismo Esotérico. Acho que é um fenomeno social importante, especialmente aqui no Brasil. Outra vertente pouco estudade é o ID Espirita.

  5. Cesar Reis disse:

    O evolucionismo esotérico, se é que se pode assim apelidar, não é rebento; é mais velho que nosso mundo e remete a história do sistema solar.
    Gostaria de crer que a mente científica de hoje pudesse entender ou se interessar, por que exceto pelas muitas e extensas resenhas exotéricas (com x) já existentes ao alcance de todos, o cerne principal imbricado traslada tanto do factual para o intuitivo como vice-versa.
    Sem esses elementos trabalhados na mente nada feito. Desse modo, não faz o gênero dos muitos sabichões laboratoristas e metodologistas da atualidade. Porém, a esperança é a última que morre.

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