Batalhas na selva
Soube ontem, por intermédio de Peter Moon, no grupo “Museu de História Natural em São Paulo” no facebook, de notícias na imprensa internacional sobre o massacre por traficantes de drogas (deu no Guardian e na BBC). Um grupo armado de fuzis estaria abrindo uma rota de tráfico entre Brasil e Peru e, claro, eliminando quem estiver pelo caminho. Por exemplo, a tribo isolada que em 2009 fez as manchetes ao ser sobrevoada e filmada, e cujos guerreiros pintados de urucum tentaram flechar o invasor metálico. O traficante português Joaquim António Custódio Fadista foi preso (de novo) por ali na sexta-feira passada.
Saí caçando na imprensa nacional. Achei mais no blogue do jornalista Altino Machado. Lá tem vídeo da região e do posto da Frente de Proteção Etnoambiental da Funai que fica junto ao igarapé Xinane, cercado pelos paramilitares peruanos. São eles, segundo o blogue, que estão causando problemas na região e que teriam atacado os índios. O mesmo informa o iG.
Chegam poucos ecos a São Paulo, suficiente para ter destaque zero na mídia. Difícil imaginar a angústia e a impotência dos sertanistas e funcionários da Frente de Proteção Etnoambiental que voltaram à base para tentar proteger a área, como mostra a carta de José Carlos Meirelles no blogue do Altino Machado.
Me sinto, de alguma maneira, próxima deles por ter lido recentemente o livro O último da tribo, do jornalista norte-americano Monte Reel, que deve sair em breve no Brasil pela Companhia das Letras. O relato pega pouco mais de uma década, entre 1996 e 2008, em que a Frente de Proteção, que antes se chamava Frente de Contato, buscava aproximar-se de um índio que vivia sozinho no meio da selva em Rondônia. Uma missão cheia de conflitos, afinal para que perturbar o índio que estava tocando a vida do jeito dele? A resposta é simples – é impossível protegê-lo sem conhecê-lo -, mas não eliminava as dúvidas nem mesmo dos próprios homens que se arriscavam a flechadas, malárias e muito mais nessa busca: o contato traz mais benefícios ou mais danos?
Agora surge um bom exemplo do princípio que norteia esses sertanistas: se não forem eles a entrar em contato, serão mineradores, fazendeiros, traficantes. Ou paramilitares peruanos, agora. Todos esses armados e dispostos a atirar sem hesitação. Alguém que vê os índios como pessoas que têm o direito de viver no seu espaço precisa saber onde eles estão para tentar garantir esse direito. Tentar, é esse o problema.
As pessoas que conheci no livro se embrenham na floresta, ajudam tribos já contatadas e pedem ajuda a elas, se empenham em aprender o máximo interferindo o mínimo. Proteger essas pessoas é a sua missão. E para isso precisam também fazer política, tanto local como em Brasília. E enfrentam guerras como essa que parece estar acontecendo agora, sem apoio do exército e nem mesmo da imprensa.

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