Paradoxo de sexta (41)

Bom, o da semana passada – que chamei de Paradoxo dos Povos Primitivos – representa, como foi notado nos comentários, um falso dilema, ao menos na esfera lógico-teórica: na interação entre duas culturas, deve haver outra opção que não a assimilação ou o isolamento. É concebível, por exemplo, uma coevolução, na qual ambas se influenciam e estimulam, mas sem que cada uma perca efetivamente seu “sabor” característico.
Mas confesso que continuo na dúvida quanto à aplicabilidade prática da coevolução quando o desnível tecnológico e/ou populacional entre as culturas é muito grande, e mesmo quando o contato é cheio de boas intenções. Digo, as grandes culturas do Oriente – Índia, China, Japão – certamente existem em coevolução com a Ocidental, mas como seria possível coevoluir com uma cultura neolítica, hoje, sem esmagá-la, ainda que só por acidente? E, se a coevolução é impossível, por motivos práticos, o paradoxo se reinstala.
Quanto ao hipotético contato alienígena – com a humanidade na ponta “primitiva” da equação -, se a opção fosse entre assimilação ou isolamento, eu sou totalmente pela assimilação (que nenhum Borg ouça isso…)
Mas hoje é dia de coisa nova. Vamos ao Paradoxo de Braess.
Este paradoxo tem um enunciado enganadoramente simples: ele diz que há situações em que reduzir as rotas disponíveis numa rede – onde “rotas” podem ser, por exemplo, ruas numa rede rodoviária, ou jogadores num time de basquete ou de futebol (onde os atletas são abstraídos como as rotas por onde a bola passa) – pode de fato melhorar o tráfego (ou, no caso esportivo, aumentar o número de gols).
Em termos práticos, isso significa que um time com 10 pode jogar melhor que com 11; que a interdição de uma rua em meio a um congestionamento pode fazer o trânsito fluir melhor. E não se trata de papo furado: em 1990, o fechamento da Rua 42 em Nova York fez o trânsito melhorar tanto, mas tanto, que a coisa até rendeu reportagem do New York Times.
Como é possível?

Discussão - 3 comentários

  1. Igor Santos disse:

    Não lembro onde mas li (ou ouvi via podcast) que esse problema das ruas é devido ao "egoísmo de rota" (ou um termo parecido) onde cada indivíduo escolhe sempre o caminho que mais o favorece, independentemente de qualquer benefício para o todo.
    Desse modo, como muita gente tem um deslocamento parecido, todos escolhem a via mais "favorável", seja ela a mais curta ou mais rápida, deixando outros caminhos subutilizados.
    Ao se fechar a rua 42 (que provavelmente estava com um fluxo impossível de carros), os motoristas foram forçados a diluir as escolhas entre outras ruas, aumento o benefício geral.
    No caso esportivo, essas rotas não seriam mais análogas ao número de passes, ao invés de jogadores?
    Quanto menor o número de toques, menor a chance da bola ser roubada ou de haver um passe errado e mais rapidamente ela chegaria ao alvo, aumentando o número de tentativas de gols ou cestas num mesmo intervalo de tempo.
    E talvez um número menor de jogadores aumentasse a eficiência, diminuindo a variedade de escolhas para passes.

  2. Carlos Lopes disse:

    Aumentando-se os graus de liberdade aumenta o overhead para coordenar as diferentes rotas. O overhead é proporcional a n^2. O ganho com a rota extra pode não compensar o overhead extra.
    Chutei!

  3. Kitagawa disse:

    Bom, se voce quiser regular a temperatura do chuveiro, é muito mais fácil se vc só tiver duas opções, uma pra agua quente outra pra fria. Se vc por mais trs torneiras de temperaturas diversas, aí vc fica perdido...
    Um time com 10 jogadores não vai ter mais chances de marcar um gol se o adversario continuar a ter 11. Mas recentemente ouvi uma citação vinda do já falecido técnico Claudio Coutinho, segundo o qual uma partida de 10 contra dez flui mais e a chance de gol aumenta. Intuitivamente concordo, acho que se a FIFA estiver incomodada com a falta de gols, recomendaria tirar um jogador de cada time e aumentar o numero de substituições.

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