O papa em Fátima

Continuando em sua atividade precípua de promotor do turismo religioso e da valorização de relíquias duvidosas e milagres mambembes, Bento XVI esteve em Fátima.
Suponho que esta seja a única frente da missão que Ratzinger se concedeu ao escolher para si o nome de “Bento” (o mesmo do monge padroeiro da Europa) — resgatar o espírito cristão do continente — que tenha alguma chance de sucesso: lembrar aos governos que religião pode fazer bem ao bolso.
Estive na cidade de Fátima em 2000, durante uma viagem a Portugal. Como sói acontecer em lugares do tipo, o culto à suposta aparição da santa (cuja autenticidade é ainda mais duvidosa — se é que tal coisa é possível — que a do Sudário de Turim) empresta um tênue verniz ao mais mesquinho e abjeto comercialismo, e digo isso como alguém que sempre considerou o comércio uma atividade muito mais útil e honrada que a religião.
O verniz é tão tênue, na verdade, que chega a surpreender que alguém, exceto os fanáticos mais cegos, se deixe levar por ele. A cidade toda é uma enorme praça de camelôs, organizados em barraquinhas estreitas.
(Hoje, a lembrança me traz à mente o relato de James Randi, que li anos mais tarde, sobre a igreja canadense onde se vendiam medalhinhas comuns, baratas, e “benzidas pelo bispo”, mais caras; sendo que os dois balcões eram preenchidos, indiscriminadamente, a partir de um caixote comum)
O hotel em que fiquei tinha uma enorme loja de aparatos religiosos e equipamentos para igrejas — ostensórios, turíbulos, crucifixos, pias de água benta, batinas, estolas — no subsolo.
Imagino quantos padres babões de diversas partes do mundo, da Albânia ao Zaire, não torraram os tubos por lá, enquanto seus paroquianos, em casa, diligentemente seguiam depositando doações na caixinha dos pobres e no ofertório da missa.
A única exceção é a área do santuário propriamente dito, onde existe apenas uma loja de velas e imagens de cera — franquia exclusiva — com o apelo altamente hipócrita de que os fiéis não devem gastar todo o dinheiro que pretendem devotar à Virgem em velas, mas usar o excesso em obras de caridade. Como se o excesso já não tivesse ficado nas barraquinhas do lado de fora!
Enfim, para quem quiser uma desconstrução detalhada dos supostos “milagres” da aparição portuguesa, recomendo este artigo de John Nickell:
The Real Secrets of Fatima
Boa diversão!

Discussão - 2 comentários

  1. Robson disse:

    Qualquer semelhança com a cidade de Aparecida, em SP, não é mera coincidência. Fui lá a alguns anos e aquilo virou um shopping de muambas de todos os tipos e para todos os gostos.

  2. Carlos João disse:

    As vezes parece que vivemos entre zumbis. (Ou algum outro tipo de defeito genético comportamental)

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