De uma lista de 1318 espécies catalogadas pelo governo norte-americano como “em risco de extinção”, apenas 9 foram extintas desde 1973. Além disso, das 15 espécies classificadas como “recuperadas” temos ursos, lobos, pelicanos. Animais que ficariam bem melhor estampados na camisa do que o nosso amigo acima. Será que ocorre algum tipo de direcionamento na confecção deste tipo de lista?
“Dê uma boa olhada no site do WWF e o que você vê? O panda gigante, claro. Tigres, gorilas, cetácios. Répiteis, tartarugas. Geralmente fofos e felpudos, bonitos. Reparou em algum padrão? Bem, o objetivo deste blog é mudar tudo isso. Claro, fofos vão vender calendários e canecas, mas e aquelas coisas ameaçadas que até suas mães teriam problemas em gostar? Só porque são feias não quer dizer que elas não são importantes. Será que elas não merecem alguma atenção?
Parece que nem todos acham isso. A ONG citada pelo Nathan publicou um relatório este ano sobre espécies ameaçadas de extinção. Conseguem adivinhar quais?
“Imaginem um mundo sem elefantes na savana africana, onde os orangotangos apenas existem em cativeiro ou em que as imagens de ursos polares em cima de icebergs só persistem em filmes? Este mundo é mais provável do que podem pensar.”
Uma possível explicação para o fato destas listas de animais em extinção terem em grande parte animais “fofos” pode ser que normalmente estes são os mais estudados. O que também pode está relacionado a eles serem fofos e vice-versa. Qualquer estudante de biologia sabe que a maioria dos alunos de primeiro período querem trabalhar com golfinhos, baleias, tartarugas marinhas. Não estou defendendo que eles não merecem atenção, mas temos que ter um fator mais justo na hora de escolher para onde o escasso dinheiro voltado para a preservação ambiental deve ser investido. Devemos fazer uma espécie de triagem, muito utilizada por médicos em hospitais. Esta difícil escolha deve ser baseada não em apenas um fator, mas em
vários como risco de extinção, probabilidade de recuperação da espécie,
seu papel ecológico, dentre outros. Como quantificar a importância de cada fator para cada espécie? Bem, isto é assunto para outro post.
Via EcoTone, o blog da Sociedade norte-americana de Ecologia
Por isso eu sou chamado de louco e chato, só gosto das "criaturas estranhas e feias". E ainda pondero seu papel ecossistêmico, biomas, fitofisionomias e outras variáveis. ONG nenhuma se apoia ou se interessa por essa complexidade. Indago se existem algo como " Vamos proteger e salvar os insetos e aracnídeos do Cerrado e Catinga", será que vamos ver algo assim um dia?
E viva a macrofauna cativante!
Gente, a questão é simples. Todo mundo gosta mais do que é mais bonito. Eu amo o urso panda porque ele é muito lindo e fofo e quero que ele seja preservado porque ele é lindo e fofo. No entanto, pelo meu nível de formação tenho conhecimento suficiente para saber que uma espécie deve ser preservada porque ela desempenha um papel no ecossistema (eu só não sei ainda qual é o papel do ser humano). A única "força" que teria direito de extinguir uma espécie é a própria natureza, a evolução. O ser humano jamais poderia ter interferido nisso mas, ele o fez e ainda o faz. Peça um leigo para fazer uma doação para salvar um inseto em extinção. No mínimo ele vai pensar "eu mato um inseto todo dia e não dou a mínima para isso". O problema é urgente, portanto, temos que fazer uma apelação à sociedade através do que causa comoção, ou seja, criaturas fofas. Agora, cabe a quem tem o conhecimento científico julgar a melhor forma de se empregar o dinheiro arrecadado e, claro, de forma paralela informar a população sobre a importância de todas as espécies. Para isso, novamente chamo a atenção para a necessidade de cientistas e pesquisadores em cargos políticos e administrativos...
Então, a estética é só um detalhe afinal tudo é energia. Podemos então focar a nossa na preservação do todo como o todo que é, sem nos limitarmos a detalhes. Mas o ponto de vista é muito bem lembrado, pois a maioria de nós ainda vive de aparências, ou pelo menos pensa que vive. Pela preservação de um mundo mais natural inclusive em nossas mentes!
Roberto,
Concordo com a ideia. Mas o problema é que na maior parte das vezes não conseguimos preservar todo o bioma. Vide as áreas de conservação, reservas, RPPN, etc. Trabalhei boa parte da minha vida acadêmica no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, Macaé-RJ. Eles está as moscas, em termos de segurança. Lançamento de esgotos, roubos de espécies de plantas para paisagismo, desmatamento, dentre outros. Pensando de forma mais realista, temos que escolher sim quais espécies teremos que investir mais esforços, principalmente financeiro. Para isso precisamos de pesquisa básica, para entender o papel de cada espécie em seu ambiente.
Por isso, em conservacionismo, a idéia principal é preservar *biomas*, *hábitats*. Com isso preserva-se todo um conjunto *funcional* de organismos. Focar na preservação de predadores de topo de cadeia faz parte dessa lógica - predadores de topo só podem ser preservados se toda a base estiver bem. Claro que isso funciona melhor com onças e leões do que com tubarões, mas mesmo uma campanha bem direcionada de relações públicas de tubarões pode surtir algum efeito (inclusive turístico).
[]s,
Roberto Takata
Ótimo ponto Claudia.
Concordo que as pessoas em muitos casos só doam porque os animais são bonitinhos, mas como se combate isso? Com educação, divulgação científica. Utilizar a falta de conhecimento das pessoas para ganhar dinheiro encima é algo questionável. Quanto ao dinheiro que é ganho com baleia ir para fitoplâncton eu realmente não acredito. Aqui no Rio temos uma reserva biológica feita exclusivamente para o Mico-leão-dourado. Temos outros animais que ganham com esta reserva? Com certeza. Mas todo o dinheiro investido é direcionado para pesquisa, educação ambiental e divulgação do mico e não dos outros animais.
Podemos fazer a mesma correlação para ecossistemas. As ONGs ambientalistas falam muito da Amazônia. Estão sempre por lá fazendo barulho. Sabe qual é o ecossistema brasileiro com maior classificação como Hot spot de biodiversidade? O cerrado. Essa classificação é feita tendo como base tanto a biodiversidade como a chance de extinção das espécies, pelo impacto antrópico. As espécies lá do cerrado enfrentam um perigo muito maior, mas sabe como é. Cerrado é feio. Poucas árvores, muitos arbustos. Não tem árvores frondosas, primatas famosos. Vamos plantar mais cana!
Esse seu post dá margem para muita discussao.
É obvio q a escolha de animais "fofos" é por causa do maior apelo popular, é muito mais facil alguem querer contribuir para a preservacao das baleias do q dos fitoplanctons! E no fim se sabe q toda a grana que vai para a preservacao das baleias acaba indiretamente contribuindo tb para a preservacao desse ser invisivel tao ou mais importante que as baleias. Isso é quase regra geral em varios outros ecossistemas. Infelizmente as pessoas ainda precisam de um motivo meigo para ajudar a preservar, se o motivo nao for bonitinho elas prefirem fazer outras coisas...
Olá Taty,
Belo complemento ao post. O animal que você citou, inclusive, também está no blog do Nathan. Mas quem se importa? Os ursos polares são os mais ameaçados pelo Aquecimento Global!
Não entrei em um assunto polêmico neste post, vou deixar para o próxima. Mas algo que ninguém discuti é sobre o papel ecológico de cada espécie. Nem todas são espécies chave (na verdade muitas são redundantes), ainda mais se falando em mamíferos. Várias espécies de insetos estão ameaçadas pelo aquecimento global, inclusive espécies polinizadoras de grande importância. Será que a extinção do urso polar vai ser pior em escala ecossistêmica do que a extinção de um importante grupo de polinizadores? Fica a pergunta...
Obrigado novamente pelo comentário Taty. Volte sempre!
Ótimo post.
Lembro de já ter discorrido sobre o assunto com o pessoal da faculdade. No meu primeiro périodo queria trabalhar com tartarugas marinhas (bonitinhas, fofas e todos adoram), fora que as agencias financiadoras dão dinheiro a rodo pra projetos com esses animais.
Tem aquele bichinho em extinção, o aye-aye, super feio porém são muito importantes para o estudo da evolução. Eles são os últimos exemplares vivos de um de uma família de primatas.
Mas quem se importa? Quando o estudo foi publicado sobre o aye-aye, era televisionado a toda hora a ameaça de morte àquele urso polar mimado do zoológico de Berlim!
A lista oficial dos 10 mamíferos mais raros do mundo foi publicada,e todos são FEIOS!
O simbolo oficial das espécies ameaçadas é o URSO PANDA e ele nem está entre os 10 mais ameaçados.
Bom, foi ótima sua iniciativa. (hj não trabalho com tartarugas, e sim com bactérias...são feias, mas são reconhecidas =D)
vale a pena ler: Bye-Bye to the Aye-Aye-Who wants to save an ugly animal?
http://www.slate.com/id/2160742/fr/rss/