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“Meu nome é Silva e eu faço parte de uma ONG ambientalista. Estamos muito preocupados com o futuro do planeta, com as mudanças climáticas, com os transgênicos, a água, os oceanos, as lagoas, as florestas e, é claro, com os organismos que habitam o nosso planeta. Eles precisam de nossa ajuda! Nós, seres humanos malvados matamos centenas e até milhares de espécies! Precisamos fazer algo para mudar isso! Eu tenho uma ideia. Conheço uma ave que vive na Ásia e que está ameaçada de extinção. Por não fazemos uma campanha para levantar fundos para salvarmos esta espécie? O nome dela é Rhinoplax vigil. Podemos fazer camisetas, faixas, canecas…assim as pessoas podem comprar nossos produtos e arrecadamos dinheiro para salvar esta espécie ameaçada!”



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Rhinoplax vigil. Simpático, não?

Precisamos pensar muito para saber qual seria o resultado desta campanha? É claro que ela seria um completo fracasso. O nosso amigo ambientalista não conseguiria vender nenhuma camisa ou caneca com uma foto desta “bela” ave estampada. O conceito de beleza do ser humano é algo realmente intrigante e pode ter uma explicação evolutiva bem interessante. O problema da campanha estrelando o Rhinoplax vigil não está apenas em que ela seria um fracasso. O principal problema é que ela nunca aconteceu e nem vai acontecer.

De uma lista de 1318 espécies catalogadas pelo governo norte-americano como “em risco de extinção”, apenas 9 foram extintas desde 1973. Além disso, das 15 espécies classificadas como “recuperadas” temos ursos, lobos, pelicanos. Animais que ficariam bem melhor estampados na camisa do que o nosso amigo acima. Será que ocorre algum tipo de direcionamento na confecção deste tipo de lista?

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Lampreia (Icthyomyzon bdellium)

Imaginem uma campanha de uma ONG ambientalista intitulada: “Salvem as lampreias!”. Seria um sucesso, não é? Com esta ideia na cabeça o graduando em Ecologia norte-americano Nathan Yaussy montou o blog “Coisas feias ameaçadas“. Segundo a sua descrição:

“Dê uma boa olhada no site do WWF e o que você vê? O panda gigante, claro. Tigres, gorilas, cetácios. Répiteis, tartarugas. Geralmente fofos e felpudos, bonitos. Reparou em algum padrão? Bem, o objetivo deste blog é mudar tudo isso. Claro, fofos vão vender calendários e canecas, mas e aquelas coisas ameaçadas que até suas mães teriam problemas em gostar? Só porque são feias não quer dizer que elas não são importantes. Será que elas não merecem alguma atenção?

Parece que nem todos acham isso. A ONG citada pelo Nathan publicou um relatório este ano sobre espécies ameaçadas de extinção. Conseguem adivinhar quais?

“Imaginem um mundo sem elefantes na savana africana, onde os orangotangos apenas existem em cativeiro ou em que as imagens de ursos polares em cima de icebergs só persistem em filmes? Este mundo é mais provável do que podem pensar.”

Uma possível explicação para o fato destas listas de animais em extinção terem  em grande parte animais “fofos” pode ser que normalmente estes são os mais estudados. O que também pode está relacionado a eles serem fofos e vice-versa. Qualquer estudante de biologia sabe que a maioria dos alunos de primeiro período querem trabalhar com golfinhos, baleias, tartarugas marinhas. Não estou defendendo que eles não merecem atenção, mas temos que ter um fator mais justo na hora de escolher para onde o escasso dinheiro voltado para a preservação ambiental deve ser investido. Devemos fazer uma espécie de triagem, muito utilizada por médicos em hospitais. Esta difícil escolha deve ser baseada não em apenas um fator, mas em
vários como risco de extinção, probabilidade de recuperação da espécie,
seu papel ecológico, dentre outros. Como quantificar a importância de cada fator para cada espécie? Bem, isto é assunto para outro post.

Via EcoTone, o blog da Sociedade norte-americana de Ecologia