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Clique para ampliar. Fonte: Non sequitur

Placa: Louva-a-deus Bar e Grill – Noite das mulheres
“Cara…olha só! Até o Ralph consegue se dar bem aqui!”

A dica para fazer seu parceiro perder a cabeça é simples. Se você acredita em reencarnação, torça para na próxima você ser um louva-a-deus. Fêmea, é claro. Esta é uma das maneiras de você conseguir fazer o seu parceiro perder a cabeça de forma não metafórica. Para entender melhor o porquê disso e a piada do cartoon acima, continue lendo o post.


ResearchBlogging.orgO canibalismo sexual é o consumo de um indivíduo do sexo oposto e de mesma espécie durante ou após o ato sexual. Normalmente a fêmea é a responsável pelo ato, sendo este tipo de comportamento restrito a poucos grupos de animais. As fêmeas mais vorazes normalmente são aranhas ou insetos, como o louva-a-deus do cartoon que ilustra este post. Ao contrário dos humanos onde o principal motivo das fêmeas quererem a morte dos seus machos está relacionado a competição por outras fêmeas, o canibalismo sexual em outros grupos de animais não segue este padrão. Ao se alimentar do macho durante ou após a consumação do ato sexual, a fêmea consegue um certo benefício nutricional que pode melhorar tanto a quantidade como a qualidade da sua prole.

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Pensamento da Argiope trifasciata fêmea (esquerda) em relação ao seu futuro macho (direita): “Magrinho, mas dá pro gasto…”. Crédito: Valter Jacinto

Em algumas espécies de louva-a-deus a fêmea normalmente começa a devorar
o macho ainda durante o ato sexual. O início do processo se dá
justamente pela cabeça e depois a fêmea passa a se alimentar do resto do corpo
do companheiro. O erro do cartoon do início do post está em que a fêmea
de louva-deus nunca iria arrancar a cabeça do macho e depois jogar para
fora do bar. O objetivo é justamente aumentar o ganho energético pós
ato sexual.

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“Mamãe sempre me disse para procurar um marido mais gordinho, agora sei o porquê”. Fonte: Wikimedia commons

O canibalismo sexual é algo recorrente em determinados grupos de animais, mas dependendo de certas condições ele pode ser mais ou menos frequente. Um artigo do periódico American Naturalism mostrou que este comportamento pode ser relacionado diretamente com a diferença de tamanho entre indivíduos de sexo diferente em espécies de aranha. Para a maioria dos grupos estudados, a frequência de canibalismo foi muito maior em espécies onde os machos eram muito menores que as fêmeas. O que ainda faltavam eram estudos que analisassem diretamente o comportamento canibal feminino e as possíveis explicações para que certas fêmeas comessem os machos durante o ato sexual e outras apenas virassem para o lado e dormissem.

Um grupo de entomólogos da Eslováquia tentou achar explicações para este comportamento sexual através de um experimento simples. Os pesquisadores coletaram jovens de louva-a-deus (Mantis religiosa; belo nome científico para um louva-a-deus, não?) lá na Eslováquia e mantiveram elas em laboratório sobre condições controladas até que elas atingissem a maturidade sexual. Depois disso eles permitiram que as fêmeas copulassem com os pobres machos que aguardavam desesperados na sala ao lado. Este processo foi repetido em um segundo round.  Depois de cada fato consumado os pesquisadores abriam a porta do quarto e anotavam o resultado. Duas possíveis situações encontradas pós-coito:

  1. Fêmea + macho = não houve canibalismo.
  2. Fêmea + asas do macho = precisamos de um novo macho para o segundo round.

Após a análise dos dados do primeiro e do segundo round de cópulas os autores chegaram a uma conclusão interessante. Fêmeas virgens que acabaram de amadurecer praticavam canibalismo com mais frequência no primeiro round e poupavam mais os seus companheiros no segundo round. Este padrão se repetiu com as fêmeas mais velhas que amadureceram a mais tempo. O resultado encontrado corrobora a ideia que a fecundidade é um fator importante para o canibalismo praticado pelas fêmeas. Já no segundo round a maior parte das fêmeas (tanto as velhas quanto as recém maduras) poupavam mais os seus companheiros de labuta. Então, uma vez que a fêmea já copulou e se alimentou do ex-marido para ajudar na maturação dos ovos, o novo companheiro pode ser poupado. É claro que algumas fêmeas dos estudo comeram os machos tanto no primeiro como no segundo round, coisas da vida. O importante é que após a primeira cópula, fatores como fome ou disponibilidade de alimentos ao redor podem ser mais importantes do que aumentar a reserva de energia para maturação dos ovos para a frequência de canibalismo em fêmeas de louva-a-deus. Resumindo…se depois ou, principalmente, durante o sexo bater uma fome na fêmea de louva-a-deus é provável que o macho (muito menor em tamanho que a fêmea) vire sobremesa.

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Este post fez parte da Blogagem coletiva “Cientista também caça paraquedista“. O título foi inspirado em um famoso post do nosso vizinho de ScienceBlogsBrasil Caapora.

Referências:

Wilder, S., & Rypstra, A. (2008). Sexual Size Dimorphism Predicts the Frequency of Sexual Cannibalism Within and Among Species of Spiders The American Naturalist, 172 (3), 431-440 DOI: 10.1086/589518
Prokop, P., & Václav, R. (2007). Seasonal aspects of sexual cannibalism in the praying mantis (Mantis religiosa) Journal of Ethology, 26 (2), 213-218 DOI: 10.1007/s10164-007-0050-3