Por dentro da URSS: Relações com a China

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Diversos motivos impedem que a Rússia “governe” a China. Um é que ela é grande demais e seria de certo muito difícil ao Kremlin empregar aí a força, se algum dia isso fosse necessário. Depois, a China tem a respeitabilidade da velhice, não podendo ser menosprezada como um parvenu ou fantoche. A grande revolução chinesa, que destronou a dinastia manchu, em 1911, precedeu por diversos anos à russa; também Mao Tse-tung possui uma antiguidade, no movimento comunista internacional, com a qual nenhum líder russo pode competir. Além disso, os comunistas chineses conquistaram seu país sem intervenção do Exército Vermelho e, na realidade, sem ajuda russa de espécie alguma. Por algum tempo, Stalin até apoiou Chiang Kai-shek. Uma outra consideração é de que, durante esse período de auxílio soviético aos chineses (pela década de 1930/40), os conselhos russos aos comunistas dessa nação quase os levaram ao fracasso. Agindo de acordo com as normas estabelecidas, desprezaram as circunstâncias locais chinesas e aderiram à orientação marxista ortodoxa de que a revolução deveria ser feita pelo proletariado das cidades; em oposição, Mao preferiu sair para o campo e alastrar seu movimento entre a classe agrícola. Desde então, a China tem recebido os conselhos soviéticos com uma certa reserva. Em todo o caso, os russos não pretendem ter cooperado muito na conquista comunista da China. E mesmo a atitude atual de Pequim para com Moscou oferece traços de superioridade e até é algo condescendente.

[…] Quando Mao visitou Moscou em fins de 1949, realizaram-se negociações mais estritas, em vista das necessidades econômicas da Rússia. “Não fosse, naquela época, a rigidez política dos Estados Unidos em relação à China Vermelha, o governo de Peiping [sic] bem poderia ter decidido romper abertamente com Moscou, como fizera o Marechal Tito em 1948”, escreveu Isaac Deutscher no New Statesman de 29 de junho de 1957. — GUNTHER, John. A Rússia por dentro. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1959. pp. 522-23

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