O causo das árvores da Marginal Tietê

Até onde vale a pena “brincar” com a natureza em detrimento do progresso? 

Com essa pergunta, do @interney, lá no Twitter, é que eu tiro o pó desse teclado, as aranhas desse mouse e recomeço a blogar.

A pergunta do Sr. Edney era um chamado para a leitura de um post do Cris Dias, sobre as obras na marginal do Tietê. Para a construção de 23 Km de extensão de cada um dos lados da via, além de novas pontes e viadutos (aqui), o canteiro central, que abriga hoje cerca de 4589 árvores adultas, deixará de existir. Dessas árvores, 935 serão transplantadas. As demais, algumas já condenadas, outras não, serão ou estão sendo derrubadas (aqui e aqui).

Minha discussão sobre esse assunto começou lá no twitter. Eu escrevi “dizer que as árvores da marginal são “natureza” é discutível.” E é mesmo. As árvores da marginal estão bem longe de ser um exemplo de mata ciliar, que é um tipo de mata original da várzea de rios. Aliás, o rio também não é mais o mesmo faz tempo. Assim como o Pinheiros, do qual já escrevi um pouco aqui, perdeu seus meandros ao longo dos anos, e foi perdendo cada vez mais a mata original, dando lugar não só a marginal, mas também a prédios comerciais e residenciais. 

Rio_tiete.jpg

Fonte da fotografia: Wikipedia

Dizer que as árvores da marginal são sumidouros de carbono também não é verdade. Árvores adultas retêm uma quantidade mínima de carbono. Árvores jovens, das que estão sendo prometidas pelo governo em substituição as que serão cortadas agora, essas sim podem contribuir para a diminuição da concentração de gás carbônico (mas só um pouquinho… 15 mil árvores retêm apenas algumas toneladas de carbono e não podem ser responsabilizadas por nada em termos de aquecimento global).

Uma questão interessante dessa história toda é a permeabilidade da via. Fato é que uma área de asfalto não absorve nada de água de chuva. A troca da área de gramado e árvores para maior área asfaltada, sem dúvida trará problemas de permeabilização de água. Mas acredito que já existam técnicas na engenharia civil capazes de auxiliar o escoamento de água (a verificar).

Agora, há uma outra coisa interessante nessa história. Fiz ainda a pouco uma perguntinha no Twitter: View image

Qual é, na sua opinião, o maior problema da cidade de São Paulo, hoje em dia?

Tive até agora 10 respostas. Nove delas, relacionadas à transporte: uma sobre ônibus fretado (@clauchowi), dois sobre transporte público (@carloshotta e @nelas) e seis sobre trânsito e mobilidade urbana (@djmisscloud, @UREU, @dbonis, @robertaavila, @docouto, @Joao_Gil). Também tive uma resposta sobre desigualdade social e miséria (@kekageorgino). 

Qualquer obra que permita maior fluxo de carros, menos congestionamento e maior mobilidade podem ajudar e muito, não só o bem-estar das pessoas que usam as marginais, como o meio ambiente. Menos trânsito = menos tempo de carros ligados = menos emissão de poluentes. Dizer que as obras da marginal não vão ajudar em nada é precipitado. Dizer que é melhor manter o canteiro central em detrimento da melhoria do fluxo de veículos, é um pouco duvidoso.

Restam duas dúvidas. A primeira sobre o paisagismo da área: vai ficar só concreto e asfalto ou vai sobrar verde para alegrar os olhos do paulistano? A segunda: até onde vale a pena brincar com a natureza em busca do progresso?

Discussão - 8 comentários

  1. Lucia Malla disse:

    São Paulo é o melhor exemplo brasileiro de que não vale a pena brincar com a natureza. Basta olhar o número de mortos diários por problemas cardiorrespiratórios (pra citar só uma das patologias...) causados pela poluição atmosférica pra lá de exagerada - fora os cronicamente asmáticos e brônquicos (existe essa palavra?). Podemos olhar pro problema com olhos frios: é a diminuição da expectativa de vida da população. Eu prefiro olhar com olhos humanos nesse caso: são pessoas, pais, filhos, irmãos, amigos meus, seus e nossos, que vão morrer mais cedo por conta dessa "brincadeira" com a natureza. Porque quando o problema é o ar que a gente respira, não há muita discriminação entre rico, pobre e mediano, entre analfabeto e pós-graduado: somos todos farinha dentro do mesmo saco. Dentro do mesmo problema.

  2. Uma vez eu ouvi uma pesquisadora chilena descrever um caso bem curioso sobre uma cidade do Chile que não vou me lembrar agora qual era... Mas a palestra foi na Conferência Regional sobre mudanças globais na América do Sul.
    Fato é que a cidade estudada mantinha uma divisão geográfica perfeita entre os bairros mais humildes e os mais abastados. E o que a cientista fez foi comparar crianças e idosos das duas áreas durante as épocas de seca e chuva. O resultado era alarmante. No bairro abastado, com mais árvores que o bairro humilde, havia menor índice de doenças respiratórias, principalmente na estação da seca . O bairro humilde, sem praticamente nenhuma árvore, tinha, inclusive, casos de mortes por complicações respiratórias. Claro, há que se considerar o estado nutricional e de higiene de ambos os locais, e deve-se colocar isso em conta antes de qualquer conclusão mais acertada, mas fato é: todos farinhas do mesmo saco pero no mucho.
    São Paulo precisa urgentemente de um programa urbanístico que considere as árvores como grandes preciosidades nas áreas urbanas - sejam elas ricas ou pobres. Mais do que grandes parques, talvez pequenos parques espalhados por todos os lados. Árvores, claro, bem escolhidas para não atrapalhar a fiação elétrica nem perfurar o asfalto... Invés de "ou natureza ou progresso", talvez um pensamento mais "natureza com progresso".

  3. Claudia Chow disse:

    Paula quem transita todos os dias na Marginal tem suas duvidas sobre a eficacia dessas obras, alias o caos q ela esta causando agora e até a obra terminar nao sei se vai mudar alguma coisa coisa, afinal até lá serão mais carros transitando por ali.
    Outra coisa tenho contato com pessoas q estao trabalhando na obra e quer saber de um detalhe ainda nao se sabe ao certo nem como o q de fato será feito, existe uma linha mestra, mas ainda é uma incognita para as empreiteiras como de fato vao chegar no obejtivo.
    Quem dirige diariamente na marginal conta q o maior problema dela é a educacao no transito, a falta de nocao dos motoristas que muitas vezes sabendo q vao entrar na proxima saida insistem em trafegar na faixa da esquerda até o ultimo momento e qdo percebem q podem perder a saida, saem dando seta e entrando na frente de todo mundo e gerando a famosa onda de transito fazendo alguem parar o carro 1km pra trás, sem q nada muito grave tenha acontecido. E assim causando lentidao por kms e mais kms. Se isso acontece sempre hj qdo temos apenas 4 faixas imagine qdo tivermos trechos com 13 faixas (pelo menos é a intencao do projeto)!!!
    Na minha opiniao as arvores sao apenas a cereja do bolo... O maior problema na minha opiniao é saber se efetivamente essa obra vai melhorar a fluidez e se compensa causar um tumulto hj (sim, só as obras vao causar muita lentidao, pode apostar), pra ver se amanha vai ajudar o transito a ser mais agil. Como eu sei q administracao publica tem milhares de palpiteiros de planto e gente q muitas vezes nem é, nem vive em SP dando opiniao tenho medo se essa obra nao é apenas uma ideia milaborante de algum dono de construtora para poder ganhar seus milhoes de reais (coisa q eu nem deveria reclamar pois pode me dar emprego).
    Outro ponto q me causa duvida é o escoamento de água, será q isso foi de fato calculado?? Irei consultar amigos engenheiros de drenagem sobre o assunto, mas o fato de impermeabilizarem uma área tao grande de causa pesar, simplesmente por lembrar q o Tiete já transbordou uma vez, nao faz muito tempo, eu nem estava no Brasil, mas que conseguiu transformar a cidade num caos.
    E as arvores... Nunca antes nesse país alguma obra deixou de acontecer por causa do meio ambiente, nao vao ser as arvores da marginal, q nem podemos chamar de floresta ou algo q o valha, q vao impedir!!

  4. Rafael Tadeu disse:

    Parabens pra Sao Paulo ao torrar tanto dinheiro em obras que poderão dar resultados mas nao ira toca na raiz do problema do transito . Onde a dependencia cada vez maior dos brasileiros pelo automovel esta criando cidades insustentaveis .
    Nao entendo como os ecochatos sempre levam a discussao pra o nivel global , é emissao de co2 , toneladas e etc e sempre fogem das discussoes mais aprofundadas .
    É certo que :
    1-Obra para encher o bolso das empreiteiras .
    2-Sao Paulo que se diz tao a frente( contas e gastos online , leis antifumo e tal ) da um pulo pra tras nas questoes urbanas relacionadas a transito , enquanto Ny fecha quarteiroes e impede o transito de carros e Seul revitaliza o rio Cheonggyecheon(youtube tem um video de dez minutos mostrando Seul fazendo o contrario) , SP so quer concreto vai na contramao do "desenvolvimento sustentavel".
    3-Que esse dinheiro da obra da pra construir mais linhas do metro isso dá . Mas é de interesse das empreiteiras ?
    4- Essa sua visao que todos temos q solucoes tecnologicas e de engenharia irá solucionar algo é passado... so irá atrasar o apocalipse motorizado .
    5- Vc q gosta de termos ecochatos , Sp com uma obra dessa vai na contramao da Drenagem Urbana Sustentavel .
    É tanta coisa q a hiperatividade toma conta e nem consigo colocar as ideias direito .
    Mas que Sp da mais um passo a frente de ser tornar menos humana , menos ecologica , menos sustentavel , menos ecoeficiente toda essa babogeira isso sim .
    Outra coisa vai agilizar o transito e o cara q tava pra tentar largar o carro pelo congestinamento vai continuar com seu veiculo no seu mundinho de lata fechado .

  5. nelas disse:

    Na minha opinião essa obra não vai permitir o maior fluxo de carros nem aliviar os congestionamentos. É só alargar/criar qualquer via que ela rapidamente vai entupir de automóveis e ainda vai sobrecarregar os próximos gargalos que (ainda) não foram ampliados e... pronto, tudo para de novo. IPI reduzido = mais carros. Construir mais vias é uma medida extremamente ineficaz para diminuir a poluição da cidade.
    Acho que podem ter jeitos tão mais criativos e eficazes de melhorar o trânsito, a mobilidade e a qualidade de vida em SP, que todos perdem quando os únicos "beneficiados" dessas mega-obras são os automóveis particulares.
    Se esses R$1,3 bilhões fossem usados para colocar mais ônibus por linha o dia-a-dia de muito mais gente seria melhorado, comparado com aumentar a velocidade média daquele trecho em 35% (25 km/h para 34 km/h de manhã e 15 km/h para 20 km/h de tarde).
    A moção de protesto e repúdio da IAB levanta questões urbanísticas interessantes. O CicloBR também tem comentários detalhados sobre a obra.

  6. fábio disse:

    Ufa, até que em fim alguém não condena a nova marginal de graça.

  7. Fábio
    O que eu não condeno é a retirada das árvores. Mas que eu acho bem estranha essa obra por outros motivos, isso eu acho.

  8. Tina/UREU disse:

    Olá, respondi pelo twitter reclamando sobre a multa gerada pelo transito intenso me flagrando em horario de rodizio [aborrecimento] ok reclamação a parte e vamos pensar na cidade como um todo.
    Saí de SP fazem 26 anos, é mto triste qdo volto a cidade e vejo a Marginal Tiete "ainda" em obras, e pior que antes, as árvores velhas não refrescam em nada a paisagem, e as que foram retiradas não foram substituidas. Entristeço, e mto ( ainda trago o sotaque paulista e amor pela minha cidade natal) moro em Curitiba onde o verde é parte do nosso dia a dia, o transito não cansa, não perturba, pq as árvores sugerem a paz no caminho pra casa as 6h da tarde, mesmo qdo temos obras da prefeitura.
    Qual a diferença? pq SP não poderia ter paisagens agradáveis no caminho de casa? por ser cidade grande? não acredito. Só resta acreditar na negligencia administrativa.
    @UREU

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