Ônibus espacial: Embalagem retornável para o espaço valeu a pena?

nasa espaço

Assim termina o programa de ônibus espaciais da NASA, o Projeto Constelation.
A Atlantis voará e fim. A pergunta é: valeu a pena? Muita gente critica o gasto deste programa, afinal levar e trazer um ônibus é muito caro. Exatamente 100 bilhões de dólares. E eu mesmo sempre tive essa dúvida, se vale a pena esse gasto. Para a ciência foi importante, claro, afinal temos o Hubble e suas fotos e descobertas, além das aplicações tecnológicas desenvolvidas para viagem espacial e aplicadas hoje em nosso dia-a-dia (Clique aqui para ver uma animação bem legal mostrando tecnologia espacial que já usamos no banheiro ou na cozinha).

Mas não teríamos avançado mais por menos dólares se tivessem investido em foguetes sem volta e viagens não tripuladas? Eu acho que sim.

Talvez o que tenha acontecido é que chegaram dois projetos na mesa dos caras, um dos ônibus espaciais retornáveis e outro dos foguetes descartáveis (tática russa) e na hora de decidir quiseram inovar, mas escolheram a que acabou sendo mais cara, fazer o quê? Acontece. Importante é saber a hora de parar.

Segue aqui um texto muito bom do José Monserrat Filho, chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira (AEB), e que respondeu várias perguntas que eu tinha sobre isso. LEIA!

A revista britânica The Economist, edição de 30 de junho, anuncia "o fim da Era Espacial" (The end of the Space Age). Como subtítulo, a matéria de capa adianta algo para se começar a entender sua proposta: "O espaço interior é útil. O espaço exterior é história" (Inner space is useful. Outer space is history). A primeira frase parece correta, a outra, nem tanto. Continue lendo

Só um comentário: sobre a exploração para viagens particulares ao espaço ele diz que é um luxo inútil, mas eu não tiro a razão de quem sonha em fazer isto. Veja este vídeo do avião que voa mais alto do mundo e tire suas conclusões.

E se todo ser humano pudesse passar por essa experiência, o mundo mudaria?

 

Bônus: Space Tourists – este documentário passou na TV Cultura, mostra uma dicotomina interessante entre turistas espaciais milhonários e catadores de lixo espacial russos. MUITO BOM!!!

Ciência não precisa de democracia

CARACA! Dê uma olhada nessa curva de crescimento em citações de artigos científicos da China e dos EUA.
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O que é mais absurdo, a queda dos EUA ou a subida da China, que até 2013 pode ultrapassar a maior potência científica do mundo?
Não, eu sei o que é mais absurdo: é a prova de que ciência e desenvolvimento tecnológico não dependem de democracia.
Vou tentar dormir com esse barulho.
Vi na BBC

Será que ele é?

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Hunf, tolerância tem limite…

Essa tirinha foi traduzida do ótimo Saturday Morning Breakfast Cereal e inaugura os posts relacionados ao Desafio 10:23, um protesto em que ativistas em mais de 10 países se reunirão no fim de semana de 5-6 de fevereiro de 2011 para
esclarecer que:

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Querem saber mais? Acessem http://1023.haaan.com/ e saibam tudo sobre a ação!

ps 1: Culpem o GIMP e suas fontes gringas pela falta de acentuação, eu juro que tentei encontrar uma fonte boa que as aceitasse.

ps 2: Por favor, não me façam explicar a piada da tirinha. Sério.

Parabéns para mim, para o rock e para o genoma brasileiro!

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Café afetado pela xylella. Adoro estes cortes de plantas!


13 de julho, que data mais importante para o Brasil e para o mundo. Neste dia, há alguns anos atrás (não muitos), nascia este que vos escreve. Não bastando isto, também é o dia em que se homenageia mundialmente o Rock´n Roll. Agora descobri mais um nascimento importante neste dia: Xylella fastidiosa.
Não é uma banda de rock, é uma bactéria que causa uma doença nos laranjais, e não é que ela tenha propriamente nascido em 13/7, mas nesta data ocorreu algo que mudou os rumos da ciência no Brasil.
xylella.jpg[adendo – claro que, sabendo que as bactérias se reproduzem aos milhões em poucos minutos, bilhões e bilhões de Xylellas devem nascer todos os dias e no dia 13 não foi diferente, portanto várias bactérias fariam aniversário comigo caso elas chegassem a durar um ano.]
Xyllela-Nature.jpgNeste dia, no ano 2000, foi publicado o genoma da Xylella na revista Nature. Este projeto, bancado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), foi uma aposta bem alta: gastar 12 milhões para colocar o Brasil na ponta de alguma pesquisa e chamar a atenção do mundo – no caso a genômica foi a escolhida.
Funcionou. Muitos mestres e doutores puderam aprender técnicas de ponta, equipamentos foram importados, e toda uma geração de cientistas foi gerada, sendo que muitos são hoje em dia pesquisadores no Brasil e fora dele.
Eu mesmo me beneficiei deste salto, pois desde o laboratório de iniciação científica até meu atual no doutorado participaram do sequenciamento, e só com esta conquista puderam se estabelecer, afinal a biologia molecular era muito fraca por aqui.
Mas a mágica funcionou até certo ponto. Na área acadêmica a luta agora é por qualidade. Já conseguimos colocar o Brasil no mapa científico mundial, mas precisamos de trabalhos melhores em revistas científicas de maior impacto. Os projetos genoma são muito criticados por não terem entregado para a agricultura e para a medicina as melhorias e descobertas prometidas no passado. Buscar estes resultados é o que deve aumentar a qualidade.
Mas talvez o mais importante hoje em dia seja ter o arrojo de dez anos atrás para estimular de alguma maneira o setor privado a interagir com a área de pesquisa. Um modelo de transferência de conhecimento da academia para a indústria seria o próximo passo para firmar definitivamente a produção de ciência no Brasil.

Evolução da consciência e direito animal – o debate

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Primata admirando seu reflexo

Aconteceu em São Paulo, na Livraria Cultura, dia 3 de maio de 2010, a palestra “Evolução da consciência e direito animal”. Consciência por si só já é o assunto mais espinhoso e difícil de debater, afinal sobram, e por isso mesmo faltam, definições só pra poder começar a conversa. E misturar a isto “direito animal”, é a mesma coisa que juntar nitroglicerina e um moleque do interior em época de festa junina. “Será que explode?!”
Organizada pelo escritório de advocacia do advogado Rubens Naves [adendo -difícil chamar advogado de doutor. Para mim doutor é quem tem doutorado, mas parece que D. Pedro Segundo estipulou o tal título para bacharéis em direito e eles adoram jogar isto na nossa cara], teve a presença ilustre de Cesar Ades, psicólogo que trabalha com etologia ou comportamento animal e o cientista mais gente boa dos trópicos; Sidarta Ribeiro, famoso neurocientista que foi o braço direito do mais famoso Nicolelis; eu (Zé ninguém) e mais uma porção de pessoas interessantes, alguns amigos e outros nem tanto; e um grupo organizado de um instituto de proteção dos animais.
(veja o prospecto com mais sobre os participantes aqui)
Tudo começou com uma explicação de porque raios um “adEvogado” tem que se meter em assuntos de animais. Naves já avisou que o escritório tem atuado em algumas causas relativas a direitos animais, e citou outros casos emblemáticos como a farra do boi no Paraná e problemas de saúde pública, as sempre presentes zoonoses. Ou seja, o direito tem q estar atento ao assunto sim.
Chegou a hora do bom velhinho falar, Cesar Ades. Como sempre cativou todo mundo com seu jeito moleque e deslumbrado perante a natureza e o comportamento animal. Lembrou que os animais sempre nos acompanharam durante nossa evolução, e que a própria definição do que é ser humano vem mudando conforme vai se entendendo mais o animal. E ele deu aqui vários exemplos de o quanto animais podem se sobressair em relação a nós, com chimpanzés mais rápidos que estudantes universitários [nenhuma novidade aqui], e até corvos resolvendo problemas que uma criança de 5 anos não resolveria [confesso que mesmo este blogueiro não teria resolvido a parada].
Veio então Sidarta tentar buscar as diferenças entre animais humanos e não-humanos. Tamanho de cérebro? Não, golfinhos e baleias tem cérebros maiores e passarinhos com cérebros minúsculos fazem coisas incríveis.
Comunicação? Não também. Animais conversam entre sim das mais diversas e sofisticadas formas.
Capacidade de entender símbolos? Hum…não. Macacos e pássaros podem entender símbolos se forem acostumados a tal.
Então por que “coisificamos”, ou utilizamos os animais como coisas? Bom, isso foi vantajoso pois foi o que nos trouxe até aqui: evoluimos puxados à charrete e comendo um bom bife. E além do mais fazemos a mesma coisificação com os próprios homens, como em Auschwitz. Sidarta conclui que não estaríamos aqui sem nos utilizar de animais (e homens), e que o problema do direito animal toca também o direito humano.
Começa o quebra-pau
Foi então que esquentou. As perguntas começaram inocentes, mas o grupo de proteção animal ficou com uma comichão na cadeira, se remexendo e falando alto. Deu pra perceber o nervosismo antes mesmo de eu entender que aquele grupo estava junto e sob a mesma causa.
Algumas coisas desse grupo me irritaram:
Acusaram o Sidarta de ter usado de ironia na apresentação para sacanear os defensores de animais que ele supostamente sabia que estariam lá. – Não procede. Não houve cinismo e acho que esse pessoal foi com pedras na mão. A atitude deixou isso mais claro.
Não argumentaram, só atacaram. Um dos adEvogados do grupo de defensores usou o brilhante e inédito argumento “e se fosse você sendo torturado para pesquisa em lugar do rato”, o que eu acho bem infantil para um doutor em direito.
Aí a coisa descambou. O Sidarta disse que fato é que mata animais profissionalmente, apesar de não gostar disso e compensar o fato dando um fim maior ao que faz, e enfatizando que a sociedade como um todo, democraticamente, lhe deu este direito.
Perguntou até quem mais matava animais profissionalmente e eu tive que levantar a mão, né (veja aqui o porquê).
[Se bem que se pensarmos bem, profissão é o que se faz por necessidade, se comemos por necessidade, todo mundo que come algum animal está matando profissionalmente, mas esse não foi o ponto levantado]
Na saída da palestra o grupo, que descobri ser do Instituto Nina Rosa, distribuiu CDs com um documentário sobre experimentação animal, que eu prometo assistir e contar pra você.
E é isso, meu amigo. Peço mais serenidade neste tipo de debate.
E para não pensarem que sou tendencioso, afinal eu uso animais no laboratório, veja aqui um relato do debate de uma advogada (o único comentários que achei sobre o debate até agora, inclusive olhando no site do Instituto Nina Rosa).

Alice no país da programação computacional!

060310_alice_vsml_1p.jpgQuem acompanha meu Twitter sabe que me direciono cada vez mais para iniciativas ligadas a educação.

Uma que conheci recentemente foi o software Alice, que busca fazer da programação computacional orientada a objetos algo simples e divertido de se aprender. Ao contrário das intragáveis sentenças computacionais clássicas (até quem só mexe com html, como blogueiros, arrepia às vezes), o programa possui um ambiente gráfico amigável e a sensação de se brincar com um jogo de computador. Conhecer o Alice me fez pensar imediatamente na oportunidade que pessoas como eu têm nas mãos.

Explico: tenho muito interesse em desenvolver material didático animado e nenhuma noção de programação. Com esse software posso tentar criar animações relacionadas ao ensino de biologia, química e, por que não, fazer apresentações mais interessantes para palestras, cursos, etc.!

O programa é uma ferramenta de ensino gratuita utilizada em várias escolas americanas e que permite ao usuário criar e até compartilhar na web filmes animados e videogames simples. Os estudantes visualizam imediatamente o funcionamento do programa que eles criaram, o que permite o fácil entendimento da relação entre as sentenças de programação e o comportamento dos objetos na tela.

logo_alice_Brasil.jpgO mais legal: fui convidado para o Congresso Alice Brasil 2010, evento organizado pelo Mackenzie que reunirá educadores, profissionais e cientistas para debater o ensino da programação computacional no Brasil. A ideia é mostrar a crianças e jovens brasileiros o verdadeiro potencial dos computadores.

Fato interessante: o nome Alice é uma homenagem a Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho. A homenagem veio por Carroll ter percebido o grande poder de se comunicar de modo claro e interessante.

O evento acontecerá nos dias 2 e 3 de março no campus São Paulo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e contará com oficinas, palestras, apresentações literárias e lançamentos de livros.

Quer saber mais? Acesse www.alicebrasil.com.br para todas as informações do evento e www.alice.org para conhecer mais sobre esse ótimo projeto!

Espiões, a CIA, e o aquecimento global.

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Legenda:“Malditos espiões, escondam-se!”

“Temos uma tecnologia que faz imagens de satélites muito, mas muuuito precisas. Pra que você quer usar: pra monitorar o descongelamento de geleiras e outros usos científicos, ou para espionar seus inimigos subdesenvolvidos que nunca seriam páreo militar pra você?”
Adivinha o que qualquer governante responderia?
Fantástica a capacidade do ser humano de descontar o futuro, ou seja, apostar no curto prazo em detrimento do longo.
A CIA dos EUA está colaborando com cientistas do clima liberando imagens da região ártica tiradas por seus satelites-espiões. Mas não não foi fácil convencer, pois os agentes não acham estratégico mostrar estas imagens. Claro, elas mostram um pouco do como eles tiram as fotos, revelando alguns segredinhos de espionagem, como o nível de definição das fotos, posição dos satélites, etc.
spy_vs_spy_counterserveilla.jpgConcordo que este perigo existe e tem sua importância. Existe para os EUA, mas o que o resto do mundo tem a ver com isto? Aquecimento global não é ainda uma prioridade maior que ataques terroristas? Agora pode não ser, mas aguardemos 50 anos que eles vão ver.
Não sou ingênuo, mas quero ainda acreditar que devemos sempre desejar o bem maior.
Esta iniciativa é bem vinda, mas é só uma fresta por onde a gente pode ver a diferença de força entre diferentes interesses nacionais/globais ou político/científico
Pra se ter uma idéia, a definição das imagens cedidas para estudo pela CIA tiveram a definição diminuida para não mostrar ao mundo a capacidade real dos satélites-espiões (provavelmente por serem capazes de ler a etiqueta da sua calça de lá do espaço).
O que me deixa fulo da vida é a militarização da tecnologia, sempre a frente de questões mais nobres. Agora tão lá, os mega-satelites (sem falar em outras pesquisas militares que são as mais fortemente financiadas), nas mãos não dos cientistas que os criaram, ou de comissões de ética responsáveis, mas nas mãos de políticos. Se você confia no seu, ótimo. Se não…
E é essa apropriação da ciência, ou tecnociência que é a regra. O cientista não tem controle sobre suas descobertas. Depois de adquirido pulveriza-se o conhecimento tecnocientífico, que acaba sendo controlado por poderes econômicos e políticos.
Já aconteceu antes, no caso da bomba nuclear, e vai continuar acontecendo
Os cientístas e os cidadãos têm que ficar mais espertos e engajados. Afinal temos que saber quem é que tem autorização para a pertar o grande botão vermelho.Pentagono.jpg

Os 10 assuntos científicos mais comentados de 2009

Recordar é viver (desde que não se fique apenas por essa relembrança). Então antes de prever o ano de 2010, relembremos o quase-findo 2009.

Aqui eu vou colar. Copiar e colar, na verdade. Saiu aqui na Scientific American os top 10 assuntos científicos do ano. Do LHC até a “estrela da morte”, vamos a eles:

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  • Grande Colisor de Hádrons – Engasopou ano passado, mas esse ano foi! O colisor de partículas finalmente está em uso, e já bateu todos os recordes da sua categoria “colisor peso pesado”. E ele próprio já é uma previsão para 2010, afinal resultados vão começar a sair logo mais.
  • Influenza A H1N1 – “Craro Cróvis”, como esquecê-la. Nos fez prestar atenção na gripe comum, no nosso sistema de saúde nacional e mundial. Mostrou a fragilidade da informação rápida para o cidadão, onde o único meio de comunicação com informação, explicativa, ajustada e de confiança foi o blog colega Rainha Vermelha, mostrando a força e importância dos blogs de ciência nacionais. Este é outro assunto previsto para bombar em 2010, com a segunda leva do vírus que ninguém sabe como virá. Até o Obama já se vacinou.
  • Ardipithecus ramidus – chocante fóssil estudado por mais de 15 anos antes de ser publicado em edição especial da revista Science (imagino a politicagem ferrenha que deve ser pras revistas “comprarem” este tipo de trabalho que dá muito ibope). Simplesmente este fóssil tem colocado em cheque o que define um hominídeo (ou mesmo o que nos define). Belo presente de aniversário para os 200 anos de Darwin e 150 do seu livro
  • Cop15 esperança e fiasco – tanta preparação pra nada. Ou pelo menos para perceber a fragilidade do nosso sistema político frente a tomadas de decisão rápidas e embasadas em informação científica. Escrevi mais aqui.
  • Vacina contra a AIDS – um mega estudo na Tailândia vacinou 16 mil pessoas. Conclusão: não funciona muito bem. Mas abriu várias janelas de oportunidades para estudar a reação do vírus à vacinação.
  • Hubble tunado – Esse é um que não morre. 19 anos com corpinho de 12 e meio, e agora com novos aparatos, vai continuar em atividade por mais 5 a 10 anos. Isso que foi projetado pra durar só 5! “Conta o segredinho pra essa vida longa e tão lúcida.”
  • Epigenética de pai pra filho – no ano de Darwin descobrem que Lamark estava certo?! Então características adquiridas pelos pais podem passar para os filhos e netos! Pois é, mas sem alterar o DNA, só as travas que comandam a sua leitura. E sim, isso sim muda muita coisa!
  • Água na Lua – 40 anos após a Apolo 11 a Lua revela um novo segredo: água. Danadinha essa Lua, surpreendendo a gente mesmo com um seco Mar da Tranquilidade
  • O laser “Estrela da Morte” – sim é um monte de raios laser que se juntam num ponto só. Se você colocar hidrogênio lá, ele sofre fusão! E fusão é basicamente o q acontece no coração de uma estrela! Servirá para estudos astrofísicos, nucleares e energéticos.
  • Solução pra crise: grana pra ciência – O país está em recessão? O governo tem que soltar uma grana. Obama liberou quase 800 bilhões para salvar a economia, dos quais 21,5bi foram para pesquisa. Áreas de interesse como meios de transporte e energia foram favorecidas e podem fazer a diferença no futuro. O Brasil cortou investimentos nessa área e dizem que nem teve crise por aqui.
  • E vocês, o que acharam da lista? Alguma sugestão de alteração?

Já que a COP15 não resolveu, nos dê o poder para ajudar.

cop15 lula obama.jpgCOP15 chegando ao fim e chegam ao fim nossas esperanças de uma revolução política e econômica no assunto ambiental. Ações locais e algumas ações concretas foram firmadas, ok. Mas a revolução necessária para resolver o problema não foi nem esbarrada. Não que eu tivesse grandes expectativas quanto a isso, afinal perdi a minha ingenuidade há algum tempo. Mas esperava pelo menos uma abordagem maciça da mídia, que até tentou fazer a sua parte sim, não recrimino. Mas o cidadão continua blindado contra informação de profundidade. Falar na TV sobre clima não é suficiente. Este é um tema que requer uma base de conhecimentos que o cidadão não tem, e chegamos, como sempre, ao ponto crucial que é educação básica.

Então tudo bem, a COP15 não salvou o mundo. E o que um jovem doutorando empolgado e com um sentimento de obrigação social de melhorar o mundo pode fazer? NADA.

É isto que sentimos. Eu e mais vários jovens que iniciam sua vida produtiva agora. Bem neste momento em que entramos em maior contato com o mundo percebemos que quem comanda o mundo falhou, e nós ainda não temos o poder minimamente necessário para fazer a diferença. Para pelo menos sermos ouvidos.

Quem disser “Mas jovens descolados podem se unir e fazer grandes ações. A internet está aí como uma ferramenta de mobilização, de divulgação…” está muito enganado. Talvez a internet seja a pior das maldições dos nossos dias. Ela traz esta falsa idéia de mobilização e ação. Como se escrever um blog pudesse ser uma ação social válida. Como se clicar num banner para plantar uma árvore ou alimentar uma criança fosse resolver algum problema. E feito isto podemos dormir com a consciência tranqüila da boa ação feita. Com isso o cidadão lava as mãos.

Quem acha que isto é o suficiente não tem noção real do problema. E a noção real do problema é: NINGUÉM TEM NOÇÃO REAL DO PROBLEMA!

O problema climático depende da ciência, da política, da economia, da sociedade e da educação. Cada uma com seus nuances, metodologias e agentes.

E os agentes de poder atuantes hoje, falharam. O seu sistema é lento. Quando surge um resultado científico tão alarmante quanto o aquecimento global, deveria haver como este sistema se auto-regular a tempo. Ainda mais quando os estudos também já determinam metas a serem atingidas. Aliás, estes estudos que deveriam ser a parte difícil do problema. Mas a complexidade política, que deve levar em conta todas as outras áreas e suas complexidades individuais, parece um obstáculo intransponível.

Diante desta complexidade as pessoas travam, e não há como culpá-las. A coisa é difícil mesmo.

Mas ver jovens, melhor preparados que muitos agentes formadores de opinião ou tomadores de decisão, sempre a margem da discussão é doloroso.

Sabemos que um dia tomaremos o poder. Estes jovens serão os formadores de opinião e tomadores de decisão em alguns anos. (e eu estou sendo otimista aqui, afinal poderiam me perguntar “onde estão os jovens visionários das décadas passadas agora?” Eu não saberia dizer)

Mas a questão climática coloca uma coisa em perspectiva: Certos problemas, não só o climático, precisam ser corrigidos num tempo certo. É como comprar uma Harley-Davidson: Quando se é jovem e se tem energia, força e espírito de aventura para USAR uma moto destas, não temos o dinheiro para comprá-la. Quanto juntamos o dinheiro para tal, já estamos velhos demais para usá-la como se deve.
Talvez depois, quando a competência chegar ao poder, já seja tarde demais.

A encenação da defesa de tese

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Defesas de tese. A linha de chegada de toda pós-graduação.

Pode ser mestrado ou doutorado. Pode ser com apresentação ou só entregar a tese escrita. Pode ser sozinho ou com uma banca de 6 ou até mais professores. A sua banca (o júri que avalia se você esta pronto para ostentar o título de doutor) pode ser composta só por amigos ou ter algum inimigo. (sim, cada departamento, mesmo dentro de uma mesma universidade, é diferente.)

E tem os prazos pra defender, para juntar a papelada toda, conseguir marcar a data com todos os professores da banca…

Eita estresse!

E por que chama defesa? Ora, não é óbvio? Porque o pós-graduando precisa se defender das flechadas da banca. Perguntas pontiagudas sobre o trabalho da tese ou sobre a área onde ela se encontra. Pode-se rebater com um bom escudo ou desviar no melhor estilo “Matrix” da saraivada de balas que saem das escopetas dos professores.

Ao final de tudo isto, o pós graduando será laureado com a honraria de Mestre, ou Doutor!
Que pompa!

Mas e se o candidato não estiver à altura do título?
E se fez um trabalho meia-boca, ou interpretou os dados de maneira errada, ou se ficar claro que o orientador ou outro aluno é que fizeram todo o trabalho? O que acontece?

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Acontece que ele TAMBÉM será laureado com a honraria de Mestre ou Doutor!
Que bomba!

Pois é meu amigo. Isto é o que acontece nas pós-graduações das melhores e maiores faculdades do Brasil. Não estou falando de qualquer FAFUP (Faculdade de Funilaria e Pintura) da vida não.
Isto acontece na USP, UNICAMP, UNESP, e por aí vai. Digo que ocorre pelo menos na área que eu conheço, a das biológicas.

Em poucas palavras: NÃO SE REPROVA ALUNO NAS DEFESAS!

Exceção parece ser o pessoal de exatas. Lá parece que o pau quebra solto. E parece que em outros países também é diferente (veja um relato no Brontossauros no meu Jardim). Mas nos vários departamentos que eu conheço e ouço falar, ninguém reprova mesmo.

E por que isto acontece? É a velha politicagem. Se eu for professor da banca e descer o pau no aluno que se mostra ruim, posso estar gerando mal estar com o professor que orienta este aluno, ou mesmo baixando o conceito do departamento de pós-graduação, que deixaria de somar mais um doutor formado ali. Situação chata né?

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Então o que todos os departamentos fazem? Acabam passando todo mundo! E eu já vi cada absurdo que dá até dó.
Claro que isto põe em cheque a qualidade dos doutorzinhos por aí. E também desanima saber que o meu titulo, que será conquistado com tanto suor e lágrimas, terá o mesmo valor deu um aluno medíocre empurrado com a barriga pelo sistema.

Um amigo meu uma vez disse que se colocassem um macaco no departamento “piii…” da USP, depois de 3 anos ele se forma doutor. É só alguém preencher as fichas por ele.
E eu acho engraçado que a maioria das pessoas que vão defender fica nervosa e com medo de não passar. Daí eu pergunto “você já viu ou ouviu falar em alguém que não passou?”, e sempre a resposta foi “não”. Então porque o nervosismo? Não querer fazer feio é uma coisa, mas o seu título já está garantido. Relaxa e goza.

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Por isso criei para as defesas de tese o termo “Dragão Banguela”: assusta, mas você sabe que não vai te machucar.