Posologia


Uma vez uma mulher me disse: “O que atrai em você, é o mesmo que depois repele.”

Lembro de uma exposição que fui, contrariado, porque era de monocromáticos. Chamava-se Bleu, do francês Ives Klein. Impressionante! A primeira parede tinha vários pequenos quadros, todos monocromáticos, mas de cores diferentes, que, em composição, eram impactantes.

Essa é uma boa palavra para a exposição: Impactante.

Os quadros, todos azuis, como esse na figura, eram de uma profundidade incrível. E dava vontade de ‘entrar’ dentro da pintura. Muitas coisas me marcaram nessa exposição. Tenho hoje, na minha sala, uma ‘Venus de Milo’ toda azul, copiando a idéia do pintor.

No final da exposição, ficávamos sentados em um sofá vendo dois quadros: um todo azul e o outro todo de ouro. O ouro, que deveria atrair, repelia. Porque? Não sei dizer. Tenho também um quadro todo azul e outro todo dourado na minha sala. Pra lembrar que o que parece monótono atrai, e o que deveria atrair, repele.

Lembrei disso esses dias. Duas amigas leitoras do blog andaram pedindo pra eu falar de amor. Elas acham que eu já falei de amor aqui, apesar de eu achar que era tudo biologia. Mas aqui um pedido do leitor é uma ordem.

Dizem que o amor é cego. Na verdade essa é uma fase do amor. A paixão já foi medida. É um processo bioquímico que pode durar, no máximo, 6 meses. O amor não é cego, mas a paixão pode cegar. Literalmente.

Evolutivamente, essa chuva de hormônios e neurotransmissores deve ter tido a função de manter duas pessoas juntas até conseguirem reproduzir. Como as fêmeas humanas não evidenciam o período da ovulação, nem todo coito era garantia de uma prole. Era preciso tentar mais de uma vez. Mas como convencer o macho a ficar por perto até a fecundação? Como prevenir que a fêmea não… pulasse a cerca? Desenvolvendo uma atração inexplicável e irresistível entre os dois. Quem poderia fazer isso? Amor? Não, a bioquímica!

Mas depois disso, os conflitos entre os interesses de homens e mulheres, cada um preocupado em gastar a menor quantidade de energia possível na criaçào dos filhotes, apareciam. E ai… era cada um por si, e a evolução por todos.


“O que atrai em você, é o mesmo que depois repele.” Eu já tinha ouvido isso antes, mas onde?

Lembrei. Paracelcius foi um médico alemão que viveu no final do Sec XIII e início do século XIV. No fervor da renascença, ele estudava venenos (um envenenador era um profissional requisitadíssimo naqueles tempos) e antes de inventar a homeopatia, ele fez considerações importantíssimas sobre a toxicidade das substâncias. Ele disse:

“Tudo pode ser tóxico. O que diferencia o remédio do veneno, é a dose”

Se o que atrai é o que depois repele, então não dá pra mudar. Mudança não é a resposta.

Dose. A dose é a questão.

Saber dosar é o segredo do amor. E de todo resto também.

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