Oficina de Escrita Criativa em Ciência

Diário de um Biólogo – Domingo 08/03/2009


Acordei tarde e feliz. Desde ontem não faço nada além de comer, dormir e namorar.

Mas mais uma semana vai começar e o texto do blog ameaça fazer 15 dias estampado na vitrine. Havia me prometido lançar pelo menos um texto por semana, mas a coordenação da nova Biofísica para Biologia (BMB163) tem tomado todo o meu tempo. Como boa parte desse tempo foi gasto na criação de textos para auxiliar nas aulas, pensei: “Porque não colocar eles também no blog?”

Os textos são um pouco mais didáticos do que eu costumo a colocar aqui, mas talvez sejam até mais interessantes para os muitos estudantes que frequentam o VQEB. Quem sabe até eles não comentem mais os textos, que eu sei, por diversos canais (tem texto até com comunidade – pro bem e pro mal – no Orkut), ele lêem?

PS: Um beijo especial hoje para todas as mulheres por mais esse dia especial.

Diário de um Biólogo – Segunda 01/10/2007

Foto de divulgação disponível no site oficial do filme
14h – 5a aula do curso de narrativa:

“Prof. Mauro Rebelo, o senhor concorda que essa cadeira é uma cadeira?”

Respondo que sim. Resolvi não polemizar lembrando a palestra do Enio Candotti, onde ele dizia que a diferença entre os políticos e os cientistas é que, para os primeiros, as verdades eram ‘consensuais’. Se decidissem que a cadeira, para o bem de todos, não deveria existir, então, apesar de poder ser medida e pesada, a cadeira não existia.

“Prof. Mauro Rebelo, com base nos seus conhecimentos de biologia, eu posso dizer que essa cadeira é uma baleia?”

Respondo “Não” pra deixar ela concluir.

“Então Prof. Mauro Rebelo, da mesma forma, o senhor não pode inverter a ordem das perguntas do modelo narrativo, criado e testado há 25 séculos. Simplesmente porque, ainda que o senhor não perceba a diferença, estaria tão errado quanto dizer que uma cadeira é uma baleia”.

A Sonia, impressionada com a capacidade da turma de ‘resistir’ para manter suas convicções, pergunta se eu iria examinar cientificamente essa questão algum dia, porque deveria ser fruto de alguma ‘deformação morfológica’, e escrever a respeito no blog. Ainda antes da aula terminar lembro que já escrevi sobre isso aqui. A resistência ao novo é importante para dar uma sensação de ambiente estável aos organismos, mas interfere na percepção da incongruência legítima.

17h – Termina a aula. O Milton (coordenador da PG da Fiocruz) vem encontrar com a gente e começa um amplo debate, em frente ao prédio de Farmanguinhos, sobre resistência e criatividade, que debanda, inevitavelmente, para ‘estabelecidos e outsiders‘. Vejo que minha resistência com a professora é devido ao quanto ela pode ser tendenciosa em suas opiniões.

Vamos ao aeroporto buscar meu hóspede, um aluno de uma amiga pesquisadora do Ageu Magalhães, a Fiocruz de Recife, precisava de pousada por uns dias no Rio para apresentar seu trabalho na jornada de iniciação Científica e Pós-graduação.

No caminho para casa, a discussão já tinha passado por Paulo Lins e Ismael Beah na Flip e chegado em “Tropa de Elite”. Concordamos que só ‘pobreza de espírito’, aliada a pura babaquice, pode explicar alguns colunistas de ‘O Globo’ classificarem o filme de facista.

Acho que foi a única outra concordância do dia.

O que você faria?

No final do mês de Agosto estarei ministrando juntamente com dois outros colegas um mini-curso sobre “Táticas de sobrevivência na Academia” (não, não é na academia de musculação!). É uma versão atualizada do curso que foi aclamado (nossa… que exagero) no Congresso da FeSBE (Federação das Sociedades de Biologia Experimental) em 2001, e visa discutir com alunos de graduação e pós-graduação os dilemas vividos no meio acadêmico. Para isso, estamos planejando a discussão de casos onde se apresentam dilemas técnicos, morais e éticos para que os alunos se posicionem. Abaixo descrevo uns dos casos, que apesar de fictício, se parece em muito com situações do dia-a-dia em um instituto de pesquisa. Veja as perguntas no final e sinta-se a vontade para dar sua opinião.

“Dr. Arnold é um jovem pesquisador que acaba de ser aprovado em um concurso para um importante instituto de pesquisa. Ele está ansioso para iniciar sua nova linha de pesquisa, mas as opções de financiamento para jovens são limitadas e ele começa a fazer propostas de colaboração com outros pesquisadores que permitam a ele independência de trabalho. Um pesquisador sênior de uma outra instituição, Dr. Farias, se interessa muito pela linha de trabalho de Dr. Arnold e oferece recursos para que ele realize seus experimentos. Mas em troca Dr. Farias pede que esses experimentos preliminares componham a tese de mestrado do jovem Anthony, que está com seu prazo se esgotando e ainda não definiu seu tema. A orientação seria informal, já que Dr. Arnold ainda não preenche os requisitos para orientação formal do aluno, e o crédito seria todo de Dr. Farias.
Animado com a possibilidade de iniciar seus trabalhos com os recursos oferecidos por Dr. Farias e de orientar Anthony, Dr. Arnold aceita a proposta.
No início, Anthony se mostra muito interessado e aplicado. No entanto, com o passar do tempo, Dr. Arnold percebe que Anthony teve uma formação científica deficiente, com muitas lacunas em conceitos fundamentais. Sua base teórica é fraca, muitas de suas iniciativas são equivocadas e o esforço que ele emprega na bancada não se reverte em resultados positivos. Paralelamente, Dr. Farias oferece mais recursos a Dr. Arnold e propõe a co-orientação de um segundo aluno, Brian, que tem mais tempo para planejar seus experimentos e parece ter uma formação mais sólida, com potencial para realizar efetivamente um bom trabalho. Mas quando chega o momento de Anthony escrever a tese, o resultado é pior ainda. A sua dificuldade em colocar em palavras todo o conhecimento adquirido na revisão bibliográfica e em discutir seus resultados, torna a tese de difícil leitura e Dr. Arnold teme pela sua aprovação. Dr. Farias por outro lado acredita que os resultados de Anthony são suficientes para a defesa. Alem disso, Anthony já foi aprovado para o programa de doutoramento em sua instituição.
Dr. Farias então pede a Dr. Arnold que tome parte da banca e monte uma comissão julgadora que minimize as dificuldades de Anthony para que ele possa ser aprovado. Preocupado com o futuro da colaboração que envolve o trabalho de Brian e efeito que a reprovação na tese causaria no prosseguimento da carreira de Anthony, Dr. Arnold, juntamente com outro colega, resolvem aprovar a deficiente tese de Anthony.”

Você acredita que a decisão de Dr. Arnold contribuiu para o futuro científico de Anthony?
Na sua opinião, a decisão de Dr. Arnold envolveu a proteção do futuro e do trabalho de Brian, ou os recursos provenientes de Dr. Farias?
Como você vê a decisão de Dr. Farias de aprovar para o doutorado um aluno com tantas deficiências como Anthony?

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