Cospe ou engole?

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(Esta é uma postagem casada e você pode querer ler primeiro o post anteiror)

O que os especialistas não conseguiram, ou não tentaram, explicar, é o costume das fêmeas engolirem o sêmen dos machos. Em princípio, todas as informações necessárias poderiam ser obtidas com a manipulação e o contato oral. A deglutição inclusive impediria o importante exame visual. Qual o propósito então?

Não, não é porque é nutritivo, apesar de ser rico em frutose. Também não parece ser pelo gosto, já que apesar de ser um açúcar, a frutose não é doce. Uma lenda urbana que até já foi citada em um episódio de “Sex and the city” afirma que o gosto melhora se o homem tiver comido abacaxi no dia anterior, mas isso não foi comprovado cientificamente. Umas amigas afirmam que o gosto só é bom quando é do homem que elas amam. Apesar disso também não ter sido comprovado, essa teoria pode estar mais próxima da verdadeira razão: a ativação do sistema imune. Engolir porra é uma maneira da mulher desenvolver tolerância aos antígenos do seu macho.

Um artigo publicado no ano 2000 por um grupo holandês na revista de imunologia reprodutiva, mostrou que o sêmen é rico em uma série de compostos chamados de HLA, a sigla em inglês para “antígeno dos leucócitos humanos”. São as famosas proteínas do complexo de histocompatibilidade maior, aquelas proteínas específicas produzidas na superfície das nossas células e que ajudam o nosso corpo a reconhecer o que pertence a ele e o que é estranho. São as mesmas proteínas que fazem com que o organismo tente rejeitar um órgão transplantado, por exemplo.

E do que serviria essa ‘tolerância’ as partes do corpo do homem para uma mulher apaixonada que não precise de um transplante de coração? Bom, existe sim uma parte, na verdade uma célula, do homem na qual a mulher está interessada que seja transplantada para o seu corpo, e para a qual o corpo dela pode sim, apresentar algum tipo de rejeição: o espermatozóide.

A razão pela qual muitas mulheres não conseguem engravidar é a rejeição ao embrião, ou ao feto. Não é de todo insensato. Biologicamente, ele (o feto) é um ‘corpo estranho’, ou pelo menos 50% estranho, que se comporta como um parasita no corpo da mulher.

O estudo mostra que o sêmen rico em HLA ajuda a desenvolver a tolerância da mulher ao macho, fazendo com que na hora que o sistema imune for reconhecer as proteínas na superfícies das células do feto, aqueles outros 50% de moléculas estranhas, não sejam tão estranhas assim.

Você pode achar que é brincadeira, mas o fato é que existe uma correlação direta entre mulheres que tem contato oral intimo (engolem sêmen) com o parceiro antes da concepção e a frequência de eclampsia (uma doença da gravidez que pode levar ao aborto natural e até a morte da mãe). Mulheres que engolem, tem menos eclampsia. Quanto maior a freqüência da deglutição, menor a chance de eclampsia.

E não é só isso. O muco que preenche o cérvix feminino (mais conhecido como aquela babinha que geralmente escorre depois da relação sexual) é cheio de glóbulos brancos que defendem a entrada da cavidade abdominal contra bactérias e agentes infecciosos. Mas que também atacam os espermatozóides que nadam pelos canais do muco para chegarem nas trompas. A tolerância as células do macho também reduz o ataque desses linfócitos.

Abre parenteses: As mulheres ainda são capazes de ‘filtrar’ o esperma de um homem concentrando linfócitos no muco. Essa é uma resposta inconsciente que tende a favorecer a fecundação por um ou outro macho com quem ela tenha estado em contato (e que não é necessariamente o seu macho frequente), mas essa é uma outra história. Fecha parenteses

A natureza não dá ponto sem nó. Um comportamento pode aparecer por acaso, ou como um subproduto de outro (até cultural), mas para ele se tornar uma estratégia difundida por grande parte do reino animal, se ele não teve um propósito, acabou tendo alguma utilidade.

Então podemos corrigir a intuição das meninas, que tendem mesmo a confundir tudo com emoção. Não serve qualquer porra, mas ao invés de ser a porra do homem que elas amam, tem de ser a porra do homem com quem elas querem reproduzir. Considerando que nem sempre seja o mesmo.

Koelman CA, Coumans AB, Nijman HW, Doxiadis II, Dekker GA, & Claas FH (2000). Correlation between oral sex and a low incidence of preeclampsia: a role for soluble HLA in seminal fluid? Journal of reproductive immunology, 46 (2), 155-66 PMID: 10706945

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