O rio (não) pede passagem

O silêncio do rio Mapocho, que corta Santiago do Chile, atraiu o meu olhar quando estive na cidade em dezembro passado. Ele passava imperceptível por diversos bairros residenciais e turísticos, inclusive em frente ao famoso Mercado Central de Santiago. Suas águas barrentas tão rasas não eram vistas ao dar três passos de distância do muro que o separa da calçada. Ao encostar no parapeito, era possível observar as margens pedregosas e secas.

Santiago nasceu ao lado do Mapocho, mas acabou “engolindo” e canalizando parte do rio no fim do século XIX. Isso lembra alguma cidade brasileira chamada São Paulo? Apesar dessa semelhança na ocupação do local por meio do entorno das águas, o rio Mapocho é diferente do Tietê ou do Pinheiros que banham a capital paulista. Estes são de planície, ou seja, lentos e pouco profundos o ano todo. O Mapocho é um “rio de época”.

No verão, de tão seco, se torna quase um córrego. No inverno, com as chuvas seu volume começa a aumentar. Mas o ápice do Mapocho, que nasce nas Cordilheiras dos Andes, começa em setembro com o degelo delas. E, aí, a água desce com toda a velocidade montanhas abaixo levando muita terra e pedra. O rio vai que vai pelo interior do país até chegar à capital. Lá, pode quase transbordar. Quase.

Segundo informações que obtive no Chile, em algum museu que não lembro mais o qual, o Mapocho transbordou apenas duas vezes no último século. Uma em 1900 e bolinhas e outra há cerca de 20 anos. Não tenho mais informações sobre esses causos, mas lá no nosso vizinho contaram que é destinado um espaço fixo para o rio faça chuva ou sol. Afinal, no verão ele pode ser esbelto, mas no inverno é caudaloso.

Será que se o Mapocho fosse aqui, em São Paulo, o seu espaço ocupado em tempos de cheia também seria respeitado?

Pelo o que andei pesquisando – me corrija se eu estiver errada – foi feito um esforço para eliminar os dejetos domésticos do rio Mapocho. Apesar dele não feder mesmo quando faz um calor fluminense de mais de 35 °C em Santiago e um tempo seco, dizem que há resquícios químicos no rio.

Um comentário em “O rio (não) pede passagem”

  1. Realmente é complicada essa questão dos rios em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil. Neste sentido, também vale citar o Código Florestal Brasileiro, cuja aprovação está se arrastando por rusgas entre governo e parlamento. Agora, o que se deve perguntar é: por que não respeito um bem da natureza e que só traz benefícios ao homem? Acho que vale uma reflexão e mostrar exemplos de outros rios e da situação dos mesmos também nos faz avaliar a situação do Brasil.

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