Memória Fotográfica: Victor Prevost

O terraço do Central Park (1862)
O terraço do Central Park (1862) é a fotografia mais conhecida de Victor Prevost.

Litógrafo e professor francês radicado em Nova York, onde foi um dos primeiros fotógrafos.

Nascido em 1820 na cidade francesa de La Rochelle, Charles Henry Victor Prevost passou a juventude em Paris. Na Cidade-Luz, estudou arte com o pintor Paul Delaroche [1797-1856] e começou a carreira como litógrafo. Nos Salões de Arte de Paris em 1845 e 1846, teve algumas litografias expostas.

Apesar da carreira promissora em Paris, ele não ficou muito tempo lá. Pouco depois, por motivos desconhecidos, Prevost decidiu imigrar para Nova York. Já na metrópole americana, continua a ganhar a vida como funcionário em firmas de litografia. Entre 1850 e 1852, passa a dividir um estúdio com outros cinco artistas. Nessa espécie de república das artes, situada não muito longe dos nascentes estúdios fotográficos da Broadway, Prevost entrou em contato com a técnica do daguerreótipo.

Abadia cistecerciana em Longpont (c. 1853)
Ruínas da Abadia Cistercience de Longpont, fotografada por Prevost em 1853. O tom azulado desta e das demais fotos é o que seria obtido após a revelação do negativo de papel encerado.

Enquanto isso, na França, Gustave Le Gray [1820-1884] desenvolvia um método de fotossensibilização de papel para concorrer com o calótipo inventado pelo inglês William Henry Fox Talbot [1800-1877]. Embora fosse mais simples e de melhor qualidade do que o daguerreótipo, o calótipo teve sua adoção dificultada por ter sido patenteado por seu inventor. O material desenvolvido por Le Gray era similar, mas mais durável: graças a uma camada de cera, seus papéis fotográficos podiam ser armazenados por até duas semanas antes da exposição e podiam esperar mais uma semana antes da revelação. Diferente de Talbot, Le Gray publicou suas descobertas em revistas, facilitando sua disseminação.

Pierrefonds (1853)
Vista da igreja e vila de Pierrefonds, França (1853)

Quando soube do novo processo desenvolvido por um conterrâneo, Prevost não teve dúvidas: fez as malas e foi tomar aulas com o próprio Le Gray. Passou quase todo o ano de 1853 na França, onde dominou rapidamente a nova técnica fazendo imagens das zonas rurais francesas. Suas fotos acabariam sendo usadas como ilustrações em Vinte Anos Mais Tarde, um romance histórico de Alexandre Dumas.

Unidentified Federal style house with wrap around porch, New Jersey
Casa em estilo federalista em algum lugar de Nova Jersey (1853)

Além da nova técnica, Prevost trouxe da França um colega que conheceu durante os estudos, Peter Comfort Duchocois. Juntos, os dois abriram um estúdio no número 43 da John Street em Nova York. Durante os quatro anos seguintes, entre o fim de 1853 e 1857, Prevost tornou-se o primeiro a tirar fotos de Nova York com negativos de papel. Suas imagens eram geralmente externas: edifícios comerciais, jardins, igrejas, residências urbanas e rurais — inclusive no interior do estado de Nova York e na vizinha Nova Jersey — além de navios e barcos ancorados no rio Hudson.

igrejinha americana
Igrejinha americana em local desconhecido (1853)

Em 1854, concorreu com algumas fotos numa competição fotográfica internacional realizada em Nova York. Embora fossem boas, suas imagens levaram apenas menções honrosas — os jurados parecem não ter compreendido seu sistema baseado em papel sensibilizado. Em vez de ficar chateado, Prevost parece ter feito demonstrações, fotografando o interior do edifício onde o concurso foi realizado.

Iron Works at Pompton New Jersey
Prevost fez poucas imagens de ambientes industriais. Uma delas é essa, da Fundição de Pompton, Nova Jersey (1853).

Ainda em 1854, ele foi a West Point para fotografar o eclipse solar de 26 de maio. Diversos daguerreotipistas também compareceram mas só Prevost conseguiu múltiplas exposições do fenômeno. Graças à agilidade da troca dos negativos de papel sensível, ele conseguiu dezenove fotos consecutivas. Em seguida, publicou e vendeu um álbum com essas fotos do eclipse e uma versão compacta, com todas as imagens numa página só.

Em 1855, porém, as coisas começaram a desandar. Lutando sozinhos num mercado dominado por daguerreótipos, Duchochois brigou com Prevost e a sociedade foi desfeita. Em seguida, Prevost foi trabalhar como funcionário em outro estúdio. Atuava principalmente como químico e revelador, mas também fazia algumas fotos. Esse emprego também não durou muito: em 1857, casou-se com Louise, uma professora numa escola para moças. A essa altura Prevost largou o ofício fotográfico e passou a ser educador na mesma escola da esposa, dando aulas de desenho, pintura e física.

Pipes in Connection with the New Reservoir near 86th St.
Nesta imagem da série sobre a construção do Central Park (1862) vemos a instalação das tubulações de abastecimento de um dos lagos do parque nova-iorquino.

Prevost saiu da fotografia mas a fotografia não saiu dele. Em privado, nas horas vagas, ele continuava retratando a cidade de Nova York e suas mudanças. No outono de 1862, registrou 35 imagens da construção do Central Park. Feitas em papel gelatinoso, essas fotos do nascente parque nova-iorquino também viraram álbum. Nos anos 1870, fotografou a construção da sede do Museu Americano de História Natural em 18 chapas.

Ponte junto à 8a. avenida (1862)
Essa ponte do Central Park situa-se nas proximidades da 8a. Avenida. (1862)

Falecido em abril de 1881, Prevost foi enterrado num cemitério do Brooklyn e rapidamente esquecido. Seu trabalho teria desaparecido completamente, não fosse um esconderijo repleto com seus negativos descoberto em 1901. Na virada do século, Prevost recebeu o reconhecimento póstumo como pioneiro da fotografia em Nova York.

Sua coleção de fotografias divide-se hoje entre várias instituições americanas, entre as quais o Museu Metropolitano de Arte, o Museu Municipal de Nova York, a Sociedade Histórica de Nova York, a Biblioteca Pública de NY e o Instituto Smithsonian. On-line, o George Eastman Museum tem quase uma centena das fotos de Prevost — todas são de sua passagem pela França ou da construção do Central Park, como as imagens que ilustram este artigo.

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