A latrina dos deuses (ou, a cólonização do espaço)

Detrito espacial. Delícia.

Recentemente, cientistas espaciais completaram uma análise de detritos orbitais, recuperados depois de circular a Terra durante vários anos, e descobriram que a maior parte deles estava revestida por uma fina película do que foi elegantemente descrito como “matéria fecal”, proveniente do desleixo que astronautas têm com seu saneamento.

Isso pode resolver um dos mistérios da origem da vida no nosso planeta, que parece ter brotado quase que imediatamente após o surgimento de condições favoráveis, e não após os bilhões de anos de tentativa e erro molecular necessários para o que Isaac Asimov chamou de “trabalho visionário da probabilidade”.

Obviamente, formas de vida organizadas precisariam ter ocorrido apenas uma vez nesta galáxia caso a primeira civilização a desbravar o espaço fosse tão descuidada com o meio ambiente como nós somos.

Anos atrás, Hoyle e Wickramasinghe sugeriram que a vida tinha origem cósmica e não terrestre. Eles podem estar certos, embora não exatamente da maneira que imaginaram.

É uma ideia humilhante a de que podemos ser fruto de esgoto despejado. O primeiro capítulo do Gênesis certamente exigiria uma revisão drástica.

Por outro lado, se (como alguns filósofos sugerem) a Terra, de fato, abriga a única vida no Universo, esta questão deplorável vem sendo corrigida. Pelo menos podemos nos conformar (eu evitaria dizer “inspirar”) com o fato de que nossos descendentes já estão a caminho das estrelas.

No entanto nós certamente não iríamos reconhecê-los.

E seria indelicadeza perguntar como exatamente eles chegaram lá.

Arthur C. Clarke, para a revista Ad Astra, edição de janeiro/fevereiro de 1999.

A NASA confirma que a urina dos primeiros astronautas era ejetada imediatamente (hoje em dia eles guardam líquidos por mais tempo para criar espetáculos luminosos belíssimos), enquanto os detritos sólidos eram comprimidos e estocados para remoção em terra, sendo liberados para o espaço apenas os gases produzidos pelas fezes (se um saco libera gás e não há meio para propagação das ondas sonoras, o peido faz barulho?). Aliás, o problema com dejetos intestinais é tão complexo que antes dos primeiros lançamentos espaciais os astronautas faziam uma dieta “pobre em resíduos” por até duas semanas antes da viagem e, algumas vezes, se submetiam até a enemas.

E pensar que toda criança já quis ser astronauta.

No espaço, todo dia é dia de exame de fezes!

Não posso, porém, dizer o mesmo dos russos quanto ao seu saneamento orbital. Não consegui achar informações oficiais negando, mas correm boatos (o que seríamos sem eles?) de que os primeiros cosmonautas não armazenavam lixo por muito tempo. Um dos casos mais divulgados é o de um saco de lixo da estação espacial MIR que teria colidido com um satélite indonésio, cobrindo-o de fezes.

Há também o caso do cosmonauta que foi proibido de usar o banheiro americano da Estação Espacial Internacional devido aos efeitos cóloncolaterais da rica dieta soviética que “aumenta os custos de armazenamento e reciclagem“.

Pois é. O espaço, que já foi chamado de “a fronteira final”, hoje é pouco mais que uma cidadezinha do interior com carnaval tradicional onde foliões precisam pagar para obrar no banheiro dos outros. Com a diferença que o proprietário do bojo não cobra armazenagem em sua fossa séptica.

Por isso, proponho, de hoje em diante, outro lema:

Espaço: a fronteira fecal.

Satélite indonésio após o incidente, segundo relatos de testemunhas.

Outra coisa que não consegui confirmar: a veracidade dos fatos relatados no texto de Clarke.

Mas o mundo seria tão mais legal se fosse tudo verdade mesmo, não é?

E vocês, o que acham?

Discussão - 2 comentários

  1. EltonBM disse:

    Se tem uma coisa que a humanidade nunca conseguiu lidar, talvez por falta de vontade mesmo, são os problemas sanitários. Até em um lugar onde temos uma população de dezena(s) de pessoas, no total, nós já temos problemas sanitários.
    Mas tudo bem, tudo vai se arranjar, tudo dará certo. Sempre dá!

  2. Igor Santos disse:

    Tudo se arranja, menos um desarranjo.

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