Uma pesquisa feita pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro com os professores da rede apontou que 97% dos deles acham que o baixo rendimento dos alunos se deve, prioritariamente, a uma falta de assistência dos pais. Além disso, 87, 3% acham também que existe uma “falta” de esforço dos alunos. Já quando são perguntados se o problema tem origem na falta de infra-estrutura (tanto física, como pedagógica) da escola, somente 17,4% disseram haver influência deste fator. Já se a escola oferece poucas oportunidades para o desenvolvimento intelectual do aluno, 89,7% dos professores discordaram deste fato.O que podemos tirar disto? Claramente, os professores acham que não tem culpa no baixo rendimento do aluno. O problema é externo à sala de aula e escola. São os pais, as condições de vida, a baixa auto-estima, e qualquer outra coisa que o professor não tenha “culpa”. O problema é sempre de aprendizagem e nunca de “ensinagem”. Aulas de português analisando sintaticamente frases soltas, interpretações de texto que não atraem os alunos, além de só escreverem quando são obrigados a fazerem redações. Aulas de ciência somente no quadro negro, por exemplo, estudar célula somente com desenhos do professor no quadro, ou ter um laboratório e nunca frequentá-lo. Um aluno tem aulas de biologia, mas não é capaz de encaminhar uma linha de raciocínio pelo método científico. Dá pra fazer isso só com giz e quadro? Aulas de matemática que só resolvem equações soltas. Onde esta equação entra na realidade do aluno?
Pais sem estudo podem ser maus exemplos para seus filhos, ainda mais quando estes não estimulam suas crianças a estudar? Claro que podem. O contexto social atrapalha o aprendizado? Não ter o que comer, ou morar em uma área de risco atrapalha também? Claro que sim! E as práticas pedagógicas ultrapassadas, o modelo tecnicista de sempre, o professor cuspindo giz em alunos enfileirados, sendo castrados de qualquer troca de palavras? Prejudica mais ainda! Professores adoram Paulo Freire, se pudessem faziam tatuagens dele, mas na hora de botar em prática, o buraco é mais embaixo. Os conteúdos não são a realidade dos alunos.
Não estou falando que os professores são os grandes culpados, mas, é claro, que temos uma grande parcela de culpa. Não refletimos sobre nossa prática. É duro ouvir críticas, mais ainda é refletir sobre ela e MUDAR! Precisamos de capacitações, precisamos de atualizações. Nosso modelo educacional do jeito que está, somente favorece os cidadãos mais ricos. Estes são adestrados a passar no vestibular para as melhores universidades (e, ainda por cima, públicas), enquanto o restante da população sofre com o sinergismo dos problemas que afetam sua educação. O modelo clássico “funciona bem” com crianças de classe média e rica.
Mesmo no cenário caótico que é o cotidiano de nós professores, precisamos cativar nossos alunos a aprender. Para isso, precisamos utilizar novas tecnologias, como por exemplo a internet. Se não quisermos ver trabalhos copiados integralmente da internet, temos que os ensinar a fazerem buscas de qualidade e compilarem os dados recolhidos. Puxando a sardinha para o meu lado, que tal a avaliação através de um blog? Aposto que mesmo alunos de baixa renda, tem fácil acesso a um computador em lan house. Tente. Temos que tentar ensinar de outra forma que não quadro negro e giz. Que tal estudar teia trófica fazendo uma parceria com o professor de educação física? Alunos como produtores primários, herbívoros e carnívoros, mas claro, nunca deixando a coisa só na brincadeira (anote a quantidade de cada nível em cada rodada e faça um gráfico com seus alunos em sala de aula, discutindo o comportamento desses dados). O máximo que pode acontecer é não dar tão certo quano imaginávamos. Enquanto nos mantermos distantes de nossos alunos, mais eles nos verão como mais um autoritário que quer que eles aprendam algo que não vão utilizar em nada em suas vidas.
O MEU PROFESSOR NA FACULDADE PEDIU UMA SÍNTESE CULPANDO O PROFESSOR E DEFENDENDO.
Em primeiro lugar, parabéns pelo blog de vocês! Muito bom. Considero que a melhoria na educação (nos resultados) seja algo muito complexo porque envolve muitos fatores e como um colega citou, não devemos falar de culpa, mas de responsabilidades! Pra início de conversa, como ter ânimo e criatividade com salários vergonhosos?? A rede estadual paga 1/4 do salário do meu município (que não é a capital...)
Enquanto não houver uma mobilização de toda a sociedade para mudar um problema histórico, um câncer que consome a estrutura e o pessoal nas escolas públicas, os resultados continuarão os mesmos. Vontade política, mobilização social...mudança na legislação onde a impunidade reina em dois extremos: na esfera política e entre os menores infratores, cada vez mais "educados pelo tráfico, pelo ócio, pelo abandono, e pela futilidade".
Breno,
Primeiramente, parabéns pelo excelente e revoltante post.
Tenho certeza que ele meteu uma pulguinha atrás da orelha de cada leitor.
Veja bem, minha única experiência com sala de aula é na posição de aluna. Entretanto, minha mãe é professora de matemática (e agora de ciências também) do Ensino Fundamental.
Do meu lado, lembro muito bem da diferença que o perfil do professor fez e faz no meu entendimento de cada matéria. Lembro bem de um professor de física que nos ensinava aquelas equações de movimento e velocidade usando ping-pong e bola de futebol. Agora pergunta se lembro alguma coisa das equações de matemática passadas à exaustão somente no quadro negro, sem nenhuma aplicação? Nada.
Já do lado da minha mãe (sem querer ser filha-babona, mas já sendo), estou ouvindo cada vez mais casos de alunos dela se interessando por continuar os estudos (a esmagadora maioria dos alunos dessa escola nem pensa em universidade), justamente pelo acompanhamento que minha mãe tem dado, e a atenção e valor a cada um.
Realmente, o professor não tem toda a culpa. Mas acho que tá mais do que na hora de parar essa confusão de "a culpa é de quem?". Sim, tem que se achar a responsabilidade de cada um, mas de preferência alguma coisa tem que ser feita a respeito, e sair das rodas de discussão para a realidade.
Um grande abraço, e parabéns.
Rafael,
Concordo que muitas vezes falta infraestrutura nas escolas, mas muitas das escolas que tem essa estrutura acaba subutilizando esse espaço. Conheço vários professores que trabalham em escolas particulares que tem laboratórios cheios de equipamentos encaixotados, reagentes fora de validade, bancadas sujas, etc.
Acho que o Breno está muito correto em levantar este ponto. Temos sim muitos problemas do lado de fora da escola. Mas não podemos esperar sentados que isto melhore. Temos levantar e começar a trabalhar encima disso. Temos que lutar contra a inércia de dar a mesma aula todos os anos, provas que não cobrem raciocínio, ausência de atividades extra material didáticos.
Sem vestir a camisa da educação, um professor é apenas mais um funcionário público. Que faz qualquer concurso apenas pela segurança e não pela vocação.
Prezado Breno. Adorei o post pois este realmente é um assunto muito complexo. Até a oitava série, eu estudei em uma escola municipal que era considerada uma das melhores escolas de ensino fundamental da cidade. Poucos anos depois (muito poucos mesmo), descobri que o ensino nesta escola havia decaído muito. Ficava me perguntando exatamente o que havia levado a esse rumo e em que momento. Muitos professores concordam que foi o ensino plural. É provável que tenha sido. Mas, em algum momento, os alunos perderam o respeito pelos professores. Essa psicologia moderna que desvaloriza a autoridade e incentiva o excesso de maternalismo pode não ser a principal culpada mas ela influencia muito. Os próprios pais apóiam mais os filhos (de postura inadequada) diante dos professores. Nas escolas deve existir uma hierarquia a ser respeitada, caso contrário, o caos é inevitável. Na universidade, por exemplo, encontramos muitos PhDeuses que não respeitam os alunos. Devemos lutar contra essas personalidades mas sem perder o respeito pelo ser humano. No entanto, infelizmente, o ser humano confunde liberdade com anarquia. Acredito que a infra-estrutura da escola, a pedagogia, o método de ensino, a base familiar, tudo isso seja fundamental sim para o aprendizado. Entretanto, como professora e eterna aluna, acredito que deve haver um extremo respeito mútuo entre professores e alunos (na verdade, entre todos os seres humanos).
Caro Rafael,
não existe convencimento de aprender. Acredito que aprender é uma vontade inata. A questão é oportunidade. Oportunidade de bons professores, boa infra-infra-estrutura, boa qualidade de vida, entre outros. Como o ideal é muito difícil de ser encontrado, o foco se torna como proceder na realidade conturbada nossa. Com isso, a questão se torna mais ideológica, do que de condições.
abraços
Caro Raul,
não concordo quando vc diz que a culpa está ligada aos extremos. Nós professores temos culpa sim, por nossas ações ou pela nossa formação. Nossos cursos de licenciatura nos preparam para a situação que encontramos em nossas escolas? Bem, acho que não. Reconhecermos onde se encontra os pontos fracos de cada esfera para com a educação é fundamental para planejarmos estratégias específicas para cada uma.
abraços.
Você tocou em um ponto que realmente me lembro das aulas de calculo.
"Essa formula...vai ser útil?". Pensei que não e hoje abro o livro do Gotelli..."Hmm derivada é o que mesmo?"
Faltava animo pra estudar, faltava animação do professor que poderia ao menos mostrar alguma explicação com exemplos práticos na área.
Tive aula com dois ecólogos que davam uma aula dinâmica e usavam o quadro apenas para gráficos. Bons tempos...
Quero ver mais disso na prática.
Minha mãe trabalha na rede particular e municipal do Rio de Janeiro. Laboratório de Biologia? Piada! Laboratório de Informática? Piada! Até ano passado a conexão era de linha discada pro laboratório inteiro. E são menos de 10 máquinas para turmas de 40/50 alunos. A infra-estrutura é precária(tem sala sem ventilador nesse calor infernal).
Por parte do ensino, acompanho o que minha faz nas duas escolas. Ela ensina o mesmo assunto, da mesma forma, e tenta cobrar o mesmo estilo de prova para as duas escolas. Mas... Os alunos chegam na 5ª série(ela dá aula pra quinta série) SEM SABER SOMAR! Teve uma turma do município uma vez que ela parou de ensinar o que estava ensinando, e ficou com eles tentando ensinar eles a somar e subtrair.
Obviamente existem professores péssimos, e acho que os professores têm sua parcela de culpa. Mas num sistema em que os alunos não eram reprovados, sem estímulo nenhum(dos pais, do meio, do próprio sistema etc), convencer a criança de que ela deve aprender é quase uma tarefa hercúlea. E digo mais: mesmo com a política de aprovação automática derrubada, os professores ainda são forçados a aprovar os alunos reprovados...
Dois pensamentos de segunda (mão). Um do Sartre com relação à culpa ser de quem: "O inferno são os outros."; outro do Oswaldo Montenegro quanto ao Paulo Freire: "que minhas palavras não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor, apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento". Tivemos algumas experiências interessantes com a construção de Blogs por alunos na UNEMAT. Não foram meninos mais novos, mas licenciandos em Biologia. Tomara que reproduzam a idéia quando formados.
Caro Breno Alves
O tema que nos traz é de vital interesse por estar em causa o futuro dos alunos.Mostrando-se a vida cada vez mais competitiva, serão eles as grandes vítimas. É isto uma coisa evidente. De quem é a culpa? Será de todos,não se devendo atribuí-las mais a uns do que a outros. Atrevo-me a dizer que é do sistema,da luta,da competição,da avalanche de ofertas,do diabo.
A propósito,deixo-lhe algumas palavras do Diário de um Professor-Poeta,Sebastião da Gama.
"Não sou, junto de vós, mais que um camarada um bocadinho mais velho. Sei coisas que vocês não sabem, do mesmo modo que vocês sabem coisas que eu não sei ou já esqueci. Estou aqui para ensinar umas e aprender outras. Ensinar, não. Falar delas. Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no combóio e no jardim e onde quer que nos encontremos."
Muito boa saúde.
Participo de um projeto de educação científica na UFPR Litoral, onde os alunos de graduação produzem oficinas para os alunos de ensino médio e fundamental das escolas públicas da região.
Sempre primamos a interação e outras formas de aprender. Ainda não temos dados concretos sobre a mudança na aprendizagem dos alunos, porém, a cada oficina ministrada, já é possível perceber a maior atenção e vontade de aprender de cada um deles.
Lembro-me bem do meu ensino fundamental, em escola pública, onde os professores só utilizavam o quadro, e passavam mais da metade da aula simplesmente tentando controlar os alunos. Era horrível.
Um dos meios de melhorar esta situação, em minha opinião, é fazer com que as universidades, com ensino de qualidade sejam cada vez mais próximas das escolas de sua região, trazendo melhorias tanto para os professores quanto diretamente aos alunos.
Porém, muitas universidades também utilizam somente o sistema tradicional. Onde estudo, utilizamos o sistema de aprendizagem por projetos, onde os alunos tem de produzir algo, e no caminho, há a aprendizagem. Há muita polêmica e discussão interna, mas, analizando individualmente, os alunos com mais empenho e vontade de aprender, se sentem muito mais realizados neste sistema.
Breno, a queixa mais constante dos professores não é exatamente a desmotivação dos alunos: é a total falta de educação e o comportamento acintoso de alguns.
Tem tudo a ver (a meu ver) com os fundamentos da linha de raciocínio idiota e paternalista que levou ao presente "Estatuto da Criança de do Adolescente" que permite tudo (mas tudo, mesmo!) e, literalmente, "passa a mão na cabeça" de qualquer "menor".
Na hora em que se imprime na mente das crianças que para elas atos não tem consequencias, somente aquele "ET" eventual vai se interessar em aprender, seja o que for, porque pensar dá trabalho e "ninguém pode me obrigar a fazer nada, porque eu sou menor"...
Professores péssimos existem, sim... Principalmente com os salários e as condições de trabalho existentes. Mas não há quem consiga ensinar a quem não quer aprender e considera a ignorância "uma esperteza"...
Prezado,
de pleno acordo com a idéia base do artigo [a "distância" entre "escola" e "realidade": "Enquanto nos mantermos (sic)distantes de nossos alunos..."], mas é um equívoco cair no jogo - que não interessa a ninguém - de seguir usando e legitimando a palavra "culpa" ["Não estou falando que os professores são os grandes culpados...", etc]. Enquanto esta palavra estiver circulando pela argumentação de todos os envolvidos na questão da educação, nada vai mudar de fato. Acredito ser mais "saudável" falar em "responsabilidades" e "estrutura". As "culpas" serão sempre individuais/individualizantes ou por demais generalizantes [o "sistema", etc] e, nessa bipolaridade, nada caminha...
Abraços,
Raul Motta
Prof. do Ensino Fundamental nos Municípios de Duque de Caxias e Rio de Janeiro