Achei um otimista da ciência brasileira: Stevens Rehen

Nessa crise é difícil ser otimista com a ciência brasileira. Mas eu achei um e ele não está no governo!
Para ele, a ciência no Brasil não é das melhores porque somos uma nação nova, mas vai melhorar.
Stevens Rehen é um pesquisador reconhecido, faz minicérebros e investe boa parte do seu tempo em divulgação científica.

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Tudo sobre ele aqui: http://stevensrehen.blog.uol.com.br/
No twitter: @stevensrehen
No facebook: https://www.facebook.com/stevens.rehen

Citado no episódio:

https://www.youtube.com/user/nerdologia

https://www.youtube.com/user/minutosp…

Fraude científica: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/n…

Aprenda a duvidar de tudo com Suzana Herculano-Houzel (parte 1 de 2)

Ela duvidou de tudo, inclusive do mais básico que ensinam na faculdade, e por isso acabou virando uma grande cientista.
Aqui, Suzana Herculano-Houzel faz um apanhado geral das suas pesquisas mais bacanas.

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=416gkcfzjow”]

 

Gravado durante a IBRO2015: http://ibro2015.org/

Todas as informações sobre a Suzana aqui: http://www.suzanaherculanohouzel.com/

Ela é super atuante no Facebook: https://www.facebook.com/suzana.hercu…

A primeira brasileira no TED global:
http://www.ted.com/talks/suzana_hercu…

Perna biônica de verdade. Finalmente!

Perna biônica
Perna biônica

A coisa é simples: uma prótese que entende quando o amputado quer esticar ou encolher e como ele quer fazer isso, com força ou devagar. Tudo controlado pelo cérebro mesmo, do jeito mais natural possível. Claro que um computador tem que ficar no meio do caminho, mas não parece incomodar não. É só olhar o vídeo.

Finalmente temos algo do jeito que deveria funcionar mesmo. Agora sim dá pra subir escadas!

A tecnologia está tão avançada, com o homem indo e voltando da Lua e mandando robôs nucleares pra Marte, que não dá pra acreditar que estamos tão atrasados em certas coisas básicas, como fazer uma prótese que funcione como essa que só conseguiram fazer agora. Mas porque esse atraso todo?

Eu não chamo de atraso não. Isso mostra que os maiores desafios, os mais difíceis de resolver, estão no nosso planeta mesmo. É muito mais fácil mandar 3 pessoas numa cápsula de metal, com toneladas de combustível altamente inflamável, pra fora do nosso planeta, acertar numa pedra gigante chamada Lua, e trazer esses 3 de volta, do que entender como o cérebro, de dentro de nossas próprias cabeças, comanda o movimento que fazemos todos os dias, sem esforço e sem perceber.

O pesquisador brasileiro Miguel Nicolelis está procurando fazer a mesma coisa, mas ele quer detonar o limite maior: quer fazer um tetraplégico dar o pontapé inicial da copa do mundo no Brasil, usando uma prótese que fica por fora do corpo, como a armadura do Homem de Ferro, mas controlada pelo cérebro da própria pessoa.

A Copa tá chegando. Será que dá tempo, Nicolelis?

Vi no Gizmodo, Wall Street Journal e CBS

Quer multidisciplinaridade? Vá para áreas da saúde.

A ideia é juntar tudo

[Post patrocinado por EducaEdu: Cursos Saúde e Medicina]

A trans-inter-super-ultra-mega-blaster-multidisciplinaridade estána moda, certo? Todo mundo fala disso. Mas eu acho que a coisa ainda está muito mais no discurso do que na prática. O mundo ainda compensa mais as pessoas super-especializadas. Isso é o que eu acho, mas podemos discutir. Se não concorda ou me apóia, comente este post com sua idéia.

Apesar de não ver isso na prática da pesquisa, pelo menos tenho visto algo parecido surgir em aulas da pós-graduação. Ou pelo menos algumas. E vejo que a área de saúde é a que tem estado na frente nesta multidisciplinaridade.

Dou alguns exemplos:

Como eu estou entrando na área das neurociências eu tenho feito disciplinas de pós-graduação na psiquiatria da USP, e comecei por uma disciplina mais amistosa para mim, biólogo que sou – isto é, com um “molecular” ou “genética” no nome. Afinal, em estudos do câncer ou do cérebro, molecular é molecular e genética é genética. Elas são ferramentas que podem ser aplicadas a muita coisa, e os termos, técnicas e jargões são os mesmos. Começando assim eu pude me sentir menos patinho feio dentro da psiquiatria.

Assim comecei com a disciplina Genética e Transtornos Psiquiátricos. Pode parecer bem clínico, mas no programa dava pra ver que abordaria conceitos básicos, indo de interação gene x ambiente, passando por estudos epidemiológicos, moleculares e até bioinformática e modelos animais.

Mas a multidisciplinaridade mais interessante não estava no conteúdo das aulas, mas nos alunos que apareceram por lá.

Havia biólogo (eu e não sei se mais algum), psicóloga clínica, um psiquiatra beeeem clínico mas interessado por pesquisa e epigenética, psiquiatra epidemiologista, e até um neurocirurgião!!!

Sério, eu nunca tinha conversado com um neurocirurgião. Para mim eles carregam um estigma de serem os seres mais inteligentes do mundo. Não que eu ache isso, mas parece que quando as pessoas pensam em uma profissão absurdamente difícil, pensam em neurocirurgião.

Claro que o cara era normal, bem gente boa, muito inteligente, principalmente uma inteligência bem técnica, eu diria, mas nada fora do comum para um bom cirurgião. E deu contribuições fantásticas nas discussões da aula. Sério, agora eu quero ter sempre um neurocirurgião por perto pra conversar e tirar dúvidas.

Agora estou em outra disciplina, esta bem mais voltada para pesquisa, mas ainda sim temos certa diversidade com psiquiatras (na maioria), psicólogos e eu, o biólogo fora do nicho.

E foi muito legal contribuir para a discussão quando a conversa foi sobre o papel da evolução nas doenças psiquiátricas. Eu como biólogo pude ajudar com conceitos que para biólogos são banais, mas para médicos e psicólogo são mais distantes.

Estou gostando de estar nessa área médica ou de saúde. Afinal eu tenho essa tendência generalista, de gostar de tudo, e vejo que há muita multidisciplinaridade por aqui. Claro que ainda faltam áreas importantes entrarem na roda, como, no caso da psiquiatria, os psicólogos comportamentais, neurocientistas e pessoal do comportamento animal, entre outros.

Juro que isso tudo chegou a gerar uma certa inveja-boa da prática clínica. Mas ainda bem que passa rápido.

Por isso, se você é um generalista como eu, gosta de interagir com várias áreas, e ainda não sabe o que fazer da vida (vai prestar vestibular ou entrar em uma pós-graduação), as áreas da saúde são uma boa pedida.

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Doenças psiquiátricas: uma questão de escolha

Difícil decisão hein, bichano

Muita gente tem estudado um tema na psicologia e nas neurociências que é a tomada de decisão. Basicamente é entender como o nosso cérebro, portanto nós, escolhe entre sorvete de morango ou de chocolate (você pode trocar o tema “sorvete” por emprego, namorada, Mac ou PC, casamento ou bicicleta, etc).

O interesse nessas áreas é bem claro, principalmente pro pessoal de publicidade e propaganda, economia, e essas coisas que envolvem dinheiro ou como as pessoas o gastam.

E eu me acostumei a ver esse tipo de estudo de tomada de decisão nesses temas monetários. Mas lendo um comentário de uma discussão com neurocientistas trabalhando nessa área percebi que eles têm aplicação em coisas mais importantes, como nas doenças psiquiátricas.

Uma pessoa deprimida não toma decisões como quando ela esta numa fase normal. E não só esta, mas diversas doenças são caracterizadas por pessoas tomando más decisões com relação à ansiedade e emoções. Caso clássico é o do vício, que nada mais é que um problema no circuito de recompensa e tomada de decisão no cérebro.

Agora ficou mais claro para mim como os estudos em tomada de decisão não são só uma curiosidade interessante ou uma ferramenta do marketing, mas também estão na base do entendimento das doenças psiquiátricas.

 

Vi no The Kavli Foundation

Dica do Marco Evolutivo

Bebês prematuros confundem toque e dor.

Vi na New Scientist: Uma pesquisa mostrou que os bebês prematuros sentem o toque e a dor da mesma maneira. Mas porque isto acontece?

Pobres bebês, nascem carecas, desdentados e cabeçudos. E mesmo uma cabeça tão desproporcional ainda não é o suficiente para nós, humanos. Sempre queremos mais, e para a cabeça continuar crescendo ela sai frouxa, é a famosa moleira. Ou seja, o crânio não está totalmente duro como osso, tem ainda muita cartilagem, o que permite ainda uns bons anos para crescer esse cabeção todo. Mas não é só por fora que as mudanças ocorrem, é por dentro que a mágica acontece. O cérebro cresce, e o mais interessante é que não são os neurônios os maiores responsáveis por esse crescimento. Quando estamos quase para nascer os neurônios já estão praticamente todos lá, mas como fios desencapados. A fita-isolante dos neurônios é a mielina, que nada mais é do que um lindo abraço celular. Veja o esquema:

#Neurohugs: Célula de schwann abraçando e encapando o neurônio.

O que a pesquisa achou pode ter a ver com esse “encapamento” ou com a falta de circuitos neurais já montados. Um estímulo em um cérebro bem formado tem um caminho a percorrer e certas regiões para receber este estímulo, interpretá-lo e diferenciá-lo. Mas talvez em um cérebro prematuro um estímulo acabe se espalhando por todo o cérebro do bebê como uma tempestade elétrica. Assim, dor e toque se confundiriam.

Mesmo assim, prematuros ou não, temos sobrevivido bem, nós, ex-bebês.

Controle mentes usando algas, vírus e laser

Essa é uma daquelas técnicas que pode gerar polêmicas, e só não gerou ainda porque não caiu nas graças dos jornalistas mais sensacionalistas. A optogenética é um jeito de ligar e desligar neurônios apontando para eles um laser. Não tão simples assim, porque você tem que injetar no cérebro a ser testado um vírus que leva para dentro dos neurônios desejados o gene que vai virar a proteína sensível a luz.

Veja o video:

Essa proteína vem de algas e responde a laser, e dependendo de quais neurônios a produzirem ela pode ativá-los fazendo por exemplo o camundongo do vídeo sair correndo, a mosca tentar voar, o verme parar de se mover, sempre que o laser os atingír.

Isto pode ser usado para controlar o ritmo de células cardíacas e os movimentos de células da pele, como mostrado mais ao final do vídeo.

Mas além de permitir controle, a optogenética é uma ferramenta para estudar as ligações entre os neurônios e revelar os circuitos que formam o cérebro, esses sim o Santo Graal da neurociência.

Não precisamos nos preocupar com controle mental por enquanto, estão longe disso, mas isso me faz perguntar se aquele cabo do filme Matrix era um cabo de fibra óptica.

 

Dica do Felipe do Psicológico

O que rolou na ciência HOJE: 27 de janeiro

Giordano Bruno

Giordano Bruno

Compilação de acontecimentos importantes na história da ciência, via Wikipedia

1593 – O Vaticano abre o processo contra Giordano Bruno.[Monge e estudioso que percebeu que a Terra que circunda o Sol e acabou queimado na fogueira. A estátua em sua homenagem é uma das mais fortes para mim]

1880Thomas Edison patenteia a lâmpada eléctrica, sob o número 223898.[Esse cara era bom. Um pulha, mas bom]

1888 – É fundada a National Geographic Society nos Estados Unidos, com o propósito de incrementar e difundir os conhecimentos geográficos. [Grande NatGeo. Quem não conhece ou nunca viu nenhuma foto deles está perdendo as coisas mais lindas do mundo!]

1967 – Os astronautas estadunidenses Edward Higgins White II (n. 1930), Roger Bruce Chaffee (n. 1935) e Virgil I. Grissom (n. 1926) morrem num incêndio ocorrido dentro da nave do Projeto Apollo, que ficou conhecida como Apollo 1. [Isso que dá correr mais que as pernas. Se você soubesse como essas missões eram precárias ficaria espantado]

2010 – É lançado nos Estados Unidos o iPad, tablet da Apple. [Ainda não sei pra quê que serve, a não ser pra ler quadrinhos]

Nascimentos:

1839Adolphe Marie Carnot, químico francês (m. 1920).[Cientista e político. Deveríamos ter mais perfis como este]

1903John Carew Eccles, neurofisiologista australiano (m. 1997).[Estudou os impulsos nervosos e levou o Nobel por isso um ano depois do Crick e Watson terem levado pela descoberta da estrutura do DNA.]

1936Samuel Chao Chung Ting, físico estadunidense e Prémio Nobel de Física.

Mortes:

1967

Um biólogo metido a crítico na Bienal de Arte e Tecnologia

bienal arte tecnologia.JPG

Fui na Bienal Internacional de Arte e Tecnologia – Emoção Art.ficial, no Itaú Cultural na av. Paulista.

Há tempos eu não ia a uma exposição, e as pessoas que me invejam por não morarem na capital cultural do Brasil estavam me enchendo o saco para aproveitar mais a cidade.

Para saber sobre a exposição entre no site, porque mesmo na exposição não havia nada de texto. Nem um folhetinho. Em cada obra havia uma telinha com um esquema que não explicava quase nada dela, nem a tecnologia nem a arte por trás da coisa toda.

Primeiro a parte chata – ou de como um biólogo se mete a crítico crítico de arte

As primeiras obras me chatearam bastante (veja a lista de obras aqui). No começo só haviam obras “interativas”, como os Bion, uma obra bem bonita mas que de tecnológico só tem um sensor de proximidade que diminui a intensidade da luz de LED dentro dele. Bonitinho mas ordinário, ainda mais quando foi ver quem é o “cientista” no qual o artista Adam Brown se inspirou: um maluco chamado Wilhelm Reich que inventou uma “energia biológica primordial” chamada orgone. Era tão charlatão que morreu na cadeia preso por vender aparelhos que curavam de tudo com esta energia. Mais ou menos como o aparelho bio-quântico.

bion1.jpg

Além desse haviam as Hysterical Machines, que se movem inesperadamente com a presença de humanos, mas de forma nada orgânica como propõe o artista; e Prosthetic Head que é a cabeça do artista em 3D usando um programa de inteligência artificial já bem antigo para responder perguntas do visitante. 

Essas três obras me chatearam porque esperava coisas mais inovadoras. Essa história de interatividade é muito anos 90 pro meu gosto.

O prêmio “desperdício de oportunidade” vai para Silence Barrage:
“Robôs movem-se verticalmente ao longo de várias colunas, deixando rastros que são, na verdade, a representação dos disparos de neurônios de roedores, cultivados num recipiente de vidro localizado a milhares de quilômetros de distância. Paralelamente, sensores ao largo da instalação capturam os movimentos do público, que, por sua vez, também fazem os robôs se deslocarem.”
Legal… mas como assim? Os disparos dos neurônios? Ahn?!

Pois é, nada é explicado. Nem no site da exposição. Tem os neurônios lá nos EUA, em uma placa, e sabe-deus-como captam algo que faz umas coisas na obra. E ainda a câmera que devia filmar a cultura de célula lá nos EUA estava fora do ar.
Assim, cientistas que trabalham com células (como eu) e publico em geral não se empolgam nem um pouco. Tanto esforço por nada.

Mas a coisa ficou boa. Muito boa!

A coisa começou a melhorar com o Caracolomobile. Primeiro pelo nome muito legal, segundo que isto sim é um tipo de tecnologia que esta mais na moda e mais na ponta da interação homem-máquina. A obra é um ser de movimento e sons que responde aos estímulos recebidos por eletrodos na cabeça de uma pessoa (lembrem do Nicolelis). Alguns sinais são bem fáceis de entender, como quando se morde o chiclete ele solta sempre o mesmo ruído. Mas algumas reações da máquina não são tão decifráveis. Começa assim a vontade de entender a que a máquina está respondendo, ou seja, a tentar conversar com ela (e com você mesmo, já que ela esta respondendo às suas ondas cerebrais).

O Ballet Digitallique é bem legal. Um scanner marca sua silueta parado com os braços abertos. O computador projeta e dá movimento àquela imagem estática. E coloca movimento exatamente onde deve ter, dobrando as juntas de braços, pernas e tronco. Como o computador sabe o que deve se mexer, ou como se move uma pessoa baseando-se só numa imagem estática 2D? Me fez pensar no cérebro, que com padrões simples faz verdadeiras criações e interpretações usando regras simples, que até um computadorzinho pode fazer.

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Mas o mais legal para o biólogo aqui foi o Robotarium SP e o Evolved Virtual Creatures.
O Robotarium é um zoológico de robôs, onde cada um tem um temperamento, ou uma programação, e interagem entre si. Um é calmo e evita entrar em contato com outros, outro é agressivo e avança nos outros; outro só gira sem parar, e assim vai. Todos eles juntos acabam funcionando como um modelo de interação ecológica, em que cada indivíduo tem um comportamento simples, mas como um todo passam a tem um comportamento complexo.

E o Evolved Virtual Machines mostra como mudanças aleatórias + regras simples + tempo, podem sim gerar criaturas complexas e que parecem ter sido desenhadas. Se você entender esta obra você entendeu a mais importante lição de EVOLUÇÃO!

Só ainda não consegui decifrar se aqui a arte inspira a tecnologia ou a tecnologia inspira a arte.

A “bíblia” da neurociência – use com moderação

kandel livro.JPGNa minha saga em começar a estudar neurociências (que será documentada neste blog – este já é o segundo post) eu optei por começar lendo o “Princípios de Neurociências” do Kandel, como já havia dito antes.

E este é o primeiro livro-texto que leio desde o começo. Sim, livros-texto são aqueles gigantes usados como as bíblias duma disciplina de faculdade. Geralmente o professor da tal matéria só indica os capitulos que lhe interessam e que o tempo do curso permite desenvolver.

Mas começar a ler desde o começo é muito interessante. Os 2 primeiros capítulos do Kandel são muito legais, além de informativos, contando a história da neurociência. Não como um livro de história, mas uma história escrita por um cientista. A diferença é que vai se construindo uma história baseada nos trabalhos e desenvolvimentos da pesquisa, assim eu fui me sentindo mais embasado e preparado para conversar com quem trabalha na área.

Ramon y Cajal, Golgi, Wernicke, Broca, Gazzaniga, são nomes que eu sempre ouvia mas não tinha entendido até então sua posição e importância dentro dessa história toda da decifração do cérebro. Acompanhar seu erros e acertos faz com que várias idéias surjam e muitas outras morram no leitor – morte esta que é muito importante, já que algumas idéias que nós temos e nos fazem achar muito inteligentes por isso, acabam nos deixando com cara de idiotas quando percebemos que a dois séculos atrás alguém já pensou, testou, e refutou ou confirmou tudo que você tinha cogitado. Assim nós podemos nos localizar melhor na linha do tempo de desenvolvimento desta área, sem ter que reinventar a roda.

No ombro de gigantes eu me apoiei… escorreguei e caí.

O problema dos livros-texto é o mesmo de todo gigante: geralmente são lerdos.
Esta edição que eu estou lendo é de 2000, quando o Projeto Genoma Humano estava para ser terminado, pelo menos o rascunho dele. No livro ele fala que “os mais de 80 mil genes da célula humana…” e isto esta errado!

Pelo menos em parte. Antes do sequenciamento do genoma humano, achava-se que em média um gene corresponde a uma proteína. Como temos muitas proteínas devemos ter também muitos genes, mais ou menos uns 100mil. Qual não foi a surpresa quando descobriram que há menos de 30mil genes! Foi um tapa na cara da comunidade científica, e isso mostra que o genoma é mais complexo do que se esperava, porque poucos genes conseguem fazer muito mais proteínas.

E foi um tapa na minha cara também. Afinal, o livro de 2000 já está muito ultrapassado!
Mas afinal, que livro consegue acompanhar o desenvolvimento das coisas? Por definição um livro é “obsoleto” assim que nasce. Por isso já percebi que nas questões mais polêmicas e de áreas mais dinâmicas, como a biologia molecular, vou ter que dar umas olhadas nos trabalhos científicos recentes, principalmente nas famosas revisões, que são artigos que compilam o que há de mais novo em um determinado assunto.

E é isso mesmo, porque no fim das contas não podemos pôr a culpa no livro ultrapassado, quando o responsável pelo seu conhecimento é exclusivamente VOCÊ mesmo!

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Olha aí o Kandel com aquela cara de quem tem um Prêmio Nobel no bolso.

E a neuro-saga continua, o próximo tema será: como entender seu cérebro pelos erros.