A moça de maiô verde

Ela matava todo mundo e vivia nos enganando. Agatha Christie poderia ser uma serial-killer, mas tornou-se a maior autora de novelas policiais do século XX e pioneira do surfe. Pioneira do surfe?? What???

É dificil imaginar aquela Dame de ares vitorianos saindo de uma kombi com uma prancha debaixo dos braços, pronta pra pegar um tubo. Ainda jovem no começo dos anos 1920, Agatha também teve a sua fase descolada. É o que conta Pete Robinson, fundador do Museum of British Surfing [Museu do Surfe Britânico], situado no condado de Devon, no sudoeste inglês. Para quem não sabe, Christie passou a infância e a adolescência em Devon, que também foi cenário de muitos de seus mistérios.

Como o sobrenome que a tornaria consagrada na literatura, Agatha Mary Clarissa Miller deve ao primeiro marido suas experiências com pranchas de surfe. Ex-aviador e veterano da I Guerra Mundial, Archibald “Archie” Christie foi convocado novamente pelo governo britânico em janeiro de 1922. Sua nova missão era promover a British Empire Exhibition [Exposição do Império Britânico] que seria realizada em Londres dois anos mais tarde. Após deixar a filha única de três anos aos cuidados da mãe e de uma irmã, Mrs. Christie partiu com o marido para o que acabaria sendo não uma viagem de negócios, mas uma verdadeira turnê surfista.

Agatha-Christie-surf
Maiô de lã verde e pranchão: "glória da vida" (imagem: Museum of British Surfing)

Agatha e Archie chegaram à África do Sul em fevereiro e logo foram apresentados a um esporte relativamente novo, o prone surfboarding (antigo nome do bodyboarding). Segundo a jovem Christie, “as pranchas de surfe na África do Sul eram feitas de madeira fina e leve, fáceis de carregar e logo se pega a manha para entra nas ondas.” Mas nem sempre era uma moleza, segundo a Rainha do Crime: “ocasionalmente, era doloroso, como quando você cai de nariz na areia. Mas, em geral, era um esporte simples e bastante divertido.”

Depois de passar pela Austrália e Nova Zelândia, os Christie alcançaram Honolulu em Agosto, em pleno verão havaiano. E foi em nada menos que Waikiki que, depois de umas dicas sobre como lidar com queimaduras de sol e barreiras de corais, o casal aprendeu a ficar de pé na prancha.

Entre uma onda e outra, Agatha escreveu Poirot Investiga e O Homem de Terno Marrom, que seriam publicados em 1924. Em sua autobiografia, Agatha Christie se recorda de suas peripécias no Havaí: “Eu aprendi a ponto de ficar expert — ou pelo menos expert do ponto de vista europeu — e o momento do meu completo triunfo foi no dia em que manti meu equilíbrio e fui até a praia de pé em minha prancha!” Agatha também sempre se lembrou da sua indumentária. Como o neoprene não existia na época, ela teve que apelar para a lã: “Um maravilhoso e modesto traje-de-banho de lã verde-esmeralda, que era a glória da minha vida e no qual eu me achava notavelmente bem!”

Segundo Robinson, os Christie estão entre os primeiros bretões a pegar uma onda — o único britânico que pegou uma onda antes do casal foi o próprio Príncipe Edward.

[Guardian via The Mary Sue]

chevron_left
chevron_right

Join the conversation

comment 0 comments
  • A saga do III Prêmio "Bê Neviani" | hypercubic

    [...] Foi na noite do dia 22 de abril que o Samir Elian, vizinho bloguístico do Meio de Cultura, me avisou que eu havia sido o blogueiro premiado com o III Prêmio “Bê Neviani”. Eu estava sabendo da premiação através do MdC, mas não podia imaginar que acabaria agraciado. Pensei que fosse apenas uma promoção pros tuiteiros — pra quem não sabe, eu não tenho twitter. Aliás, gostaria de agradecer aqui, ainda que muito tardiamente, ao @hsegundo, por tuitar o post sobre Agatha Christie surfista. [...]

Leave a comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Comment
Name
Email
Website